Por: Gabriela Gallo

Reunião entre Haddad e Secretário do EUA é cancelada

Haddad, Alckmin e Lula discutiram plano de contingência ao tarifaço | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos (EUA), Scott Bessent, que iria acontecer virtualmente nesta quarta-feira (13), foi cancelada. No encontro, os respectivos representantes debateriam sobre as tarifas de 50% impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), a produtos brasileiros. A informação foi divulgada pelo próprio Haddad nesta segunda-feira (11). Segundo o ministro, o cancelamento ocorreu devido a pressões da extrema direita que boicotam qualquer possibilidade de solução para o tarifaço.

“A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca tomaram conhecimento da minha fala, porque eu dei a público que eu ia me reunir com o Bessent na quarta-feira, e agiram junto a alguns assessores do presidente [dos EUA] Trump, e a reunião virtual com ele foi desmarcada e não foi remarcada até agora”, disse Haddad em entrevista à Globonews.

O ministro ainda citou que, logo após anunciar o encontro com Bessent, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou publicamente que atuaria para impedir a reunião entre Haddad e o secretário do Tesouro norte-americano – o que foi concretizado. “Não há como não relacionar uma coisa à outra. Não há coincidência”, reiterou o chefe da Fazenda.

Contingência

Nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Serviço, Geraldo Alckmin (PSB), para alinhar o plano de contingência que será divulgado para amenizar os impactos financeiros e comerciais do tarifaço na exportação de produtos brasileiros aos EUA.

O plano será divulgado como uma Medida Provisória (MP) que será encaminhada para aprovação no Congresso Nacional. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), informou, em entrevista à CNN Brasil, que dará prioridade a projetos e medidas do governo federal que visem proteger a economia e exportadores atingidos pelas tarifas impostas pelo governo dos EUA.

O presidente Lula destacou que uma das prioridades do plano de contingência é preservar empregos, especialmente dos principais setores atingidos e com maior exposição às tarifas de exportação em 50% – como café, carne, máquinas agrícolas, frutas e pescados. Além dessas medidas, a expectativa é que sejam anunciadas outras medidas emergenciais, como linhas de crédito subsidiadas e um aumento de compras governamentais.

O plano de contingência está dentro da Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/2025), sancionada em abril. A lei permite a suspensão de concessões comerciais, investimentos e obrigações relacionadas a direitos de propriedade intelectual, como resposta a ações unilaterais que prejudiquem a competitividade internacional do Brasil.

“Isso inclui situações em que há interferência nas escolhas soberanas do Brasil, violação de acordos comerciais, ou imposição de requisitos ambientais mais rigorosos do que os adotados pelo País, considerando as capacidades e padrões ambientais brasileiros. Ou seja, enquadra-se exatamente no imbróglio vivido atualmente com os EUA. Para a implementação, o Poder Executivo pode adotar contramedidas como restrições a importações de bens e serviços do estado/país que tenha incorrido nas hipóteses acima, via tarifação, por exemplo; suspensão de obrigações de propriedade intelectual ou outras previstas em acordos comerciais”, explicou ao Correio da Manhã o sócio do escritório Meirelles Costa Advogados Morvan Meirelles Costa Junior.

Retaliação

Questionado pela reportagem, Morvan Junior confirmou que existe a “possibilidade de Donald Trump retaliar juridicamente o plano de contingência brasileiro com a imposição de mais tarifas”.

“O presidente Trump já sinalizou que qualquer medida tarifária retaliatória por parte do Brasil será respondida com acréscimos proporcionais à taxa de 50%”, ele relembrou.

Por outro lado, o sócio do L.O. Baptista Fabrício Bertini Pasquot Polido, que também conversou com a reportagem, avalia que ainda é cedo para tentar antecipar uma possível resposta do governo estadunidense. “A Casa Branca oscila entre a posição de plena interferência política em assuntos domésticos brasileiros – alimentada pela ofensiva da extrema-direita e das manobras do deputado Eduardo Bolsonaro na articulação de ataque às instituições brasileiras – e da escalada de ações de pressão comercial já estabelecidas contra União Europeia, Canadá, Rússia, China, etc”, explicou o advogado.

“Tecnicamente, se o Brasil aplicar medidas recíprocas, os EUA podem aumentar proporcionalmente as tarifas aplicadas e ampliar as investigações no âmbito do Section 301 da Lei de Comércio dos EUA. Diante disso, o governo brasileiro, ainda que amparado legalmente pela Lei da Reciprocidade, opta por priorizar o diálogo”, completou Fabrício ao Correio.