Por: Karoline Cavalcante

Partido Liberal expulsa deputado por defender Moraes

Rodrigues está no PL desde 1990, seu único partido | Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados

O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, anunciou nesta quinta-feira (31) a expulsão do deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP) da sigla. A decisão foi tomada após o parlamentar sair em defesa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, elogiando sua atuação e criticando a postura do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), que incluiu o magistrado na lista de sanções da Lei Magnitsky.

Mais cedo, Rodrigues classificou a penalidade imposta como desproporcional. "É o maior absurdo que já vi na minha vida política. O Alexandre é um dos maiores juristas do país, extremamente competente. Trump tem que cuidar dos Estados Unidos, não se meter com o Brasil como está se metendo", afirmou ao portal Metrópoles.

As declarações do parlamentar evidenciaram um crescente desconforto com os rumos do partido. Em recente entrevista ao UOL, ele também criticou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), — filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que está licenciado do mandato desde março e atualmente vive nos Estados Unidos. Eduardo tem articulado ações contra autoridades brasileiras no exterior sob a justificativa de denunciar violações de direitos humanos. “Acho que o Eduardo tem que ter mais atitude de parlamentar e menos atitude de filho”, afirmou Antônio Carlos.

O deputado ainda ressaltou seu alinhamento histórico com os princípios originais do PL, anteriores à chegada de Bolsonaro à legenda. “Estou no mesmo lugar em que sempre estive. O PL sempre foi liberal, de centro. O primeiro vice do Lula era nosso. Fui indicado ao ministério pelo partido. Jamais vou virar as costas para os meus amigos. Tenho amizade com vários ministros. Eu não mudei, eles que vieram e querem mudar o partido”, declarou.

Expulsão

Diante das declarações públicas, Valdemar Costa Neto oficializou a expulsão, alegando forte pressão da bancada. “Nossos parlamentares entendem que atacar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é uma ignorância sem tamanho. Trump é o presidente do país mais forte do mundo. O que precisamos é de diplomacia e de diálogo, não de populismo barato, que só atrapalha o desenvolvimento da nossa nação. Chega de arrumar confusão. Temos que arrumar o Brasil”, disse o dirigente.

Costa Neto também destacou que o estatuto do partido prevê o direito à ampla defesa.“Ainda assim, diante da gravidade do episódio, a decisão foi tomada em sintonia com o apelo da bancada e o compromisso do partido com a responsabilidade institucional”, concluiu.

Apesar do anúncio, Antônio Carlos Rodrigues afirmou que ainda não foi oficialmente notificado. “Fui surpreendido por notícias na imprensa sobre minha suposta expulsão do Partido Liberal. Até o momento, não recebi nenhum comunicado oficial e sigo no aguardo de uma manifestação formal do partido, como é de direito. O PL sempre foi o único partido da minha vida. Nunca mudei de sigla. Sempre atuei com lealdade, respeito e coerência. As posições que manifestei recentemente foram fruto do exercício legítimo do mandato que me foi confiado pelo povo”, disse, em nota enviada à imprensa. Rodrigues está filiado ao PL desde 1990 e já exerceu os cargos de vereador, senador e ministro dos Transportes durante o governo Dilma Rousseff (PT).

Ideologia partidária

Para o cientista político Isaac Jordão, a expulsão reflete a guinada do PL em direção ao radicalismo ideológico. “Valdemar mais uma vez deixa os arrivistas tomarem conta da direção do partido em detrimento dos membros históricos. Essa atitude mostra que a prioridade número zero é repetir o sucesso eleitoral do PL nas eleições de 2026 e garantir que o fundo partidário (aproximadamente R$ 16 milhões por mês) continue sendo pago e que o Brasil está em segundo plano”, afirmou. “Além disso, demonstra que o PL está contaminado por uma disposição servil que reage se ajoelhando a interesses estrangeiros primeiro e pensando no próprio país só depois”, acrescentou.

Já o cientista político André Rosa vê a decisão sob uma ótica estratégica. Segundo ele, o partido tenta manter uma linha de coesão interna diante de um cenário político instável. “Consideremos a seguinte hipótese: se, neste momento, a base governista, ou mesmo um deputado influente do Partido dos Trabalhadores, defendesse as políticas de tarifas de Donald Trump. A questão seria a mesma. Observa-se que, especialmente após a redemocratização, a democracia representativa tem enfraquecido a identidade partidária dos parlamentares, a ponto de não serem rigidamente orientados pela agenda política de suas legendas. A ação do Partido Liberal, entretanto, demonstra a intenção de coesão partidária”, explicou.

Rosa conclui que a fidelidade partidária, mais do que a ideologia, está no centro da decisão. “Observa-se que a postura de partidos como o PSDB e, principalmente, o MDB, de conceder liberdade de expressão a seus membros sobre quaisquer temas, tem prejudicado a identidade partidária no Brasil. Portanto, neste momento, embora não se considere a questão sob uma ótica ideológica, mas sim de fidelidade partidária, tanto em permanecer na sigla quanto em seguir sua agenda, conclui-se que, caso um parlamentar deseje defender uma posição contrária à de seu partido, a mudança partidária seria a conduta mais adequada”, finalizou.