Por: Karoline Cavalcante

Oposição estuda formas de manter articulação de pautas prioritárias

Proibição do uso do Congresso restringiu ações | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), de suspender todas as reuniões das comissões da Casa até 4 de agosto, quando se encerra o recesso parlamentar, atingiu diretamente os planos da oposição, que havia articulado uma série de ações políticas durante o período. A intenção era justamente ocupar o espaço simbólico do Congresso para dar visibilidade a pautas sensíveis e reforçar sua presença no debate público.

Na sexta-feira (25), o líder do Partido Liberal na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), anunciou o cancelamento de sua agenda institucional para se unir aos deputados Hélio Lopes (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO) em um acampamento em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). O grupo protesta contra decisões recentes da Corte. Nas redes sociais, Lopes e Chrisóstomo publicaram vídeos com esparadrapos na boca, anunciando um “jejum de palavras”.

“O silêncio deles ecoa por todo o Brasil. E não ficaremos calados diante de qualquer tentativa de intimidação”, escreveu Cavalcante na plataforma X (antigo Twitter). Com a organização, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou pela retirada dos parlamentares manifestantes do local.

Pautas prioritárias

A determinação de Motta foi divulgada na última terça-feira (22), no mesmo dia em que a Comissão de Segurança Pública, presidida por Paulo Bilynskyj (PL-SP), se preparava para votar uma moção de solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que desde 18 de julho está sob monitoramento com tornozeleira eletrônica e sujeito a medidas restritivas impostas pela Justiça.

A bancada bolsonarista reagiu com críticas à medida. “Nos impede de manifestar a nossa opinião, a nossa palavra”, afirmou Bilynskyj. Ele anunciou ainda que, apesar do recesso oficial, parlamentares do PL seguiriam mobilizados em suas bases eleitorais, convocando apoiadores para manifestações nas ruas no próximo domingo, dia 3 de agosto.

As principais pautas foram apresentadas pela oposição em coletiva no dia anterior (21), incluindo também a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, o fim do foro privilegiado e a renovação da licença parlamentar de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente residindo nos Estados Unidos.

Decisão

Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político Elias Tavares observou que a intenção da oposição nunca foi, de fato, deliberar sobre esses temas durante o recesso, mas sim utilizá-los como plataforma de mobilização.

“Era uma movimentação de retórica, de narrativa, que tem seu peso na política. Ao proibir essas reuniões, Hugo Motta dificulta essa mobilização. No curto prazo, isso esfria a estratégia da oposição dentro do Congresso”, explicou. Segundo Tavares, o embate agora deve migrar “para os atos simbólicos e para o discurso de ‘cerceamento institucional’, que dialoga bem com a base bolsonarista”.

Essa virada para as redes já está em curso. Fontes ligadas à oposição relataram à reportagem que, apesar da ausência de encontros presenciais fora do Legislativo, os parlamentares seguem ativos em suas regiões, focando no uso das mídias sociais para manter vivas as pautas que consideram prioritárias.

Tavares também pontuou que, embora a medida de Motta tenha causado desconforto em diferentes setores, ela se mostra politicamente equilibrada. “É preciso lembrar que Hugo Motta foi eleito com votos da base governista, do Centrão e da oposição. Ele é produto de um acordo amplo e, por isso, pressionado de múltiplos lados. Ao restringir o funcionamento das comissões, ele busca neutralizar tensões e garantir o mínimo de estabilidade institucional. E nesse ponto, ele não erra — a decisão é coerente com o regimento e também com a prudência institucional.”

Na avaliação do cientista político, o maior entrave não está na atitude do presidente da Casa Baixa, mas no próprio modelo de funcionamento do Legislativo. “O Brasil segue com problemas urgentes, enquanto o Congresso simplesmente para por semanas. É um sistema pensado para desacelerar quando o país mais precisa de agilidade. Isso precisa ser discutido”, concluiu.