Por: Gabriela Gallo

General confirma ter sido autor de plano para matar Lula

Fernandes está preso preventivamente desde que documentos foram descobertos | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O general da reserva Mario Fernandes admitiu, em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter sido o autor do plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Um dos réus do núcleo dois da trama golpista, o general tentou minimizar o plano dizendo que ele era um “pensamento digitalizado”. Mas Fernandes não somente pensou: ele redigiu o plano e o imprimiu.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) seguiu na quinta-feira (24) com os interrogatórios de réus envolvidos nos núcleos dois e quatro do plano de tentativa de golpe de Estado. No dia anterior (23), a Corte terminara de ouvir os interrogatórios dos réus do núcleo três da trama golpista. O interrogatório durou mais de onze horas e ocorreu por meio de videoconferência para todos os réus. Nenhum ministro do colegiado do STF compareceu à sessão, tampouco o procurador-geral da República (PGR) Paulo Gonet. Representando o ministro-relator do caso, a sessão foi conduzida pelo juiz auxiliar Rafael Henrique, do gabinete no ministro Alexandre de Moraes.

Seis réus são investigados por atuarem no núcleo dois: o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, o delegado da Polícia Federal (PF) Fernando de Souza Oliveira, o general da reserva Mário Fernandes, o ex-assessor da Presidência da República Marcelo Costa Camara, o ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência Filipe Garcia Martins Pereira e a delegada da PF Marília Ferreira de Alencar.

Punhal Verde e Amarelo

Em seu depoimento, o general da reserva Mario Fernandes admitiu que foi o responsável por elaborar o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ele disse que o plano foi um pensamento seu que foi “digitalizado”, mas que não compartilhou a ideia com ninguém.

“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilado de dados, um pensamento, uma análise de riscos. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, declarou Mario Fernandes em seu depoimento. Ele ainda negou que tenha compartilhado a ideia com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eu ratifico. Impossível. Eu imprimi para ler no papel, para não forçar a vista. Após isso, rasguei. Esse horário foi uma coincidência em relação à minha atribuição administrativa e logística como secretário-executivo. Não compartilhei esse arquivo com ninguém”, completou o general.

Mario Fernandes está preso preventivamente desde novembro de 2024, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) divulgou o documento oficial denunciando as 34 pessoas envolvidas no plano de golpe. Segundo apuração da Polícia Federal (PF), ele imprimiu três cópias do plano. Questionado pelos representantes da PGR, ele negou ter tirado cópias do documento e acredita que era uma “configuração da impressora”. Ele confirmou que imprimiu o plano mais de uma vez, como fora apurado pela PF, mas que o motivo foi que ele teve uma “nova ideia” e alterou o documento – mas ele reforçou que não entregou o documento a ninguém.

Monitoramento

Em seu depoimento, Marcelo Câmara negou ter realizado um monitoramento ilegal do ministro Alexandre de Moraes. Ele ainda disse que o codinome “professora” – nome adotado para se referir a Moraes descoberto pela PF – foi escolhido pelo tenente-coronel Mauro Cid como uma “brincadeira” para se referir ao magistrado.

Ele ainda negou qualquer envolvimento em ações ilegais e reiterou que as informações compartilhadas com Cid eram públicas, e foram usadas com o único intuito de planejar logisticamente os deslocamentos do então presidente Jair Bolsonaro.

Próximos passos

Ao Correio da Manhã, o advogado criminalista Anderson Almeida detalhou os próximos passos do julgamento. “Concluídos os interrogatórios, será a vez de o Ministério Público e as defesas se manifestarem sobre eventuais diligências finais. Se nada mais for pedido – ou se o relator não entender necessárias novas medidas –, abre-se então o prazo de quinze dias para que acusação e defesa apresentem suas alegações finais, uma após a outra”, explicou.

“Encerrada essa etapa, o processo segue para julgamento pela Primeira Turma do Supremo. Por razões de interesse público, o ministro Presidente da Primeira Turma [Cristiano Zanin] poderá restringir o acesso à sessão, permitindo apenas a presença das partes e seus advogados”.