Com o prazo para a implementação do tarifaço se aproximando do fim no dia 1º de agosto, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente residindo nos Estados Unidos, resolveu criticar duramente a comitiva de senadores que viajará a Washington, capital americana. O grupo pretende articular com autoridades norte-americanas a suspensão ou adiamento da eventual taxação sobre produtos brasileiros. Eduardo classificou a missão como um "desrespeito" à clareza da carta entregue ao Palácio do Planalto pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), “que foi explícito ao apontar os caminhos que o Brasil deve percorrer internamente para restaurar a normalidade democrática”.
Em publicação na rede social X (antigo Twitter), o deputado reiterou não ter qualquer envolvimento com a iniciativa, que, segundo ele, está “fadada ao fracasso” e apenas posterga o enfrentamento de questões estruturais, vendendo a ilusão de uma "vitória diplomática" enquanto ignora o cerne da crise institucional brasileira.
“Mas confesso até simpatizar com a ideia de que venham: não por acreditar que terão sucesso, mas porque poderão constatar que aquilo que eu e o [neto do presidente da ditadura militar, general João Batista Figueiredo] Paulo Figueiredo temos dito — não há sequer início de discussão sem anistia ampla, geral e irrestrita!”, declarou na noite de terça-feira (22).
Influência
De 2013 a 2016, Figueiredo e Trump foram sócios em um empreendimento hoteleiro no Rio de Janeiro, relação que consolidou um vínculo entre ambos. Atualmente, o blogueiro tem exercido influência significativa nas pautas defendidas por Eduardo, que desde março, ao se licenciar do mandato, passou a atuar diretamente em defesa da imposição de sanções contra autoridades brasileiras. Sua justificativa para o afastamento foi a de denunciar supostas violações de direitos humanos no Brasil.
Em vídeo divulgado anteriormente, Figueiredo afirmou que os parlamentares não conseguirão reuniões “de alto escalão” com o Departamento de Estado dos EUA. “Com sorte serão recebidos ou por alguém de baixo calão, e isso está sendo decidido lá, eu fiz a minha sugestão. Ou serão recebidos por alguém que dirá a eles: ‘Os senhores estão perdendo tempo, é melhor os senhores resolverem o problema político do país de vocês antes de quererem tratar de assuntos comerciais”, declarou o lobista.
Oposição
A missão parlamentar, no entanto, também conta com integrantes da oposição, o que tem ampliado a controvérsia em torno da viagem. A comitiva de oito senadores é composta pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Nelsinho Trad (PSD-MS); os titulares Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS) e Fernando Farias (MDB-AL); além dos suplentes Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG). As reuniões estão previstas para ocorrer entre os dias 28 e 30 de julho.
Tanto Cristina quanto Pontes integraram a Esplanada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tereza Cristina foi ministra da Agricultura, e Marcos Pontes de Ciência e Tecnologia. Em razão disso, Figueiredo — em gravação compartilhada por Eduardo — chegou a chamá-los de “traidores da pátria”.
"Se os senhores querem ir trair o Brasil, 'arregar' para a ditadura, se preferem pressionar os Estados Unidos ao invés do presidente do Senado, os senhores serão tratados como traidores. E serão publicamente humilhados", afirmou.
Além disso, durante participação no evento Tá na Mesa, promovido pela Federasul nesta quarta-feira (23), o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) — líder da oposição na Câmara dos Deputados — anunciou que, nos próximos dias, deve fazer parte de uma viagem oficial aos Estados Unidos, ao lado de senadores e parlamentares, “com o objetivo de buscar uma saída diplomática para a taxação imposta pelo governo norte-americano”.
“Não é no confronto que se resolve. É com diálogo e coragem. Estamos organizando uma viagem aos Estados Unidos para defender o agro, o comércio e a indústria gaúcha. Nosso povo já enfrenta crises demais para ser penalizado”, afirmou Zucco.
Diálogo
Segundo Jaques Wagner, a comitiva é um gesto na política de dizer que o Brasil está disposto a defender os seus interesses e soberania, mas com a intenção de dialogar. Ele mencionou a carta entregue pelo Palácio do Planalto aos EUA em 16 de maio — contendo áreas que poderiam ser negociadas, com o objetivo de alcançar um acordo mútuo que, até o momento, não foi retornada —, e lembrou que o Brasil possui um déficit de U$ 7 bi anuais na relação com o país norte-americano.
"Espero que a gente tenha sucesso, porque não nos interessa ter uma briga em uma amizade de 206 anos que nós temos com os americanos", declarou o líder do governo no Senado também nesta quarta-feira.