Por: Gabriela Gallo

Lula reforça soberania brasileira, mas aceita negociar com Trump

Lula: Trump não foi eleito "imperador" do mundo | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente Donald Trump como uma “chantagem inaceitável” e reforçou que o Brasil é um país soberano. Em um pronunciamento realizado em rede nacional na noite desta quinta-feira (17), o presidente da República destacou que o Brasil “seguirá apostando em boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo”.

“Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça que o Brasil tem um único dono: o povo brasileiro”, enfatizou Lula.

Traidores da Pátria

Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua família, Lula criticou diretamente parlamentares que se manifestaram favoráveis às tarifas impostas por Trump, classificando-os como “traidores da Pátria”. Ele citou as reuniões entre governos e empresários, sindicatos e representantes da sociedade civil e enfatizou que o Brasil “está construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África, a América Latina e o Caribe”.

“A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam a mais de 15 anos robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares”, ele reiterou.

“Imperador”

Em uma entrevista concedida à CNN internacional também nesta quinta-feira (17), o presidente Lula disse como recebeu a carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), anunciando a tarifaço de 50%. Em conversa com a âncora norte-americana Christiane Amanpour, o brasileiro criticou as políticas tarifárias de Trump, alegando que ele não pode agir como o “imperador do mundo”.

“Se anunciarmos taxas a um país e eles não concordarem, nós iniciaremos uma mesa de negociação. É assim que funciona o mundo do multilateralismo, e é assim que o Brasil age. O que o Trump esquece é que ele foi eleito para ser o governante dos Estados Unidos, não o imperador do mundo”, criticou Lula.

Em resposta, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, destacou que Donald Trump “não está tentando ser o imperador do mundo”, mas disse que governante estadunidense é “o presidente do mundo livre”.

“Reféns”

Ainda na entrevista à CNN, o presidente Lula ressaltou que o Brasil é um país que preza pela paz e pelo diálogo e que não pretende instalar uma guerra com os EUA. “Ninguém quer se separar dos Estados Unidos, ninguém quer ficar livre dos Estados Unidos. O que nós queremos é não ficarmos reféns dos Estados Unidos. Nós queremos liberdade, não queremos ser reféns dos Estados Unidos. Queremos liberdade para negociar”, destacou Lula.

O brasileiro ainda disse: “Se o Trump fosse brasileiro e ele fizesse o que aconteceu no Capitólio, ele também seria julgado e, possivelmente, se ele violasse a Constituição, ele também seria preso”.

Negociação

Enquanto isso, seguem as negociações entre congressistas e demais autoridades de ambos os países. Foram confirmados nesta quinta-feira os membros da comitiva externa de senadores que irão para o Capitólio negociar diretamente com congressistas dos EUA, e eventualmente com o próprio Trump, um recuo do tarifaço.

A comitiva será presidida pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que convocou a viagem. O comitê temporário também será composto pelos senadores Tereza Cristina (PP-MS), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Jacques Wagner (PT-BA), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE), Fernando Farias (MDB-AL) e Carlos Viana (Podemos-MG).

Adiamento

Além disso, o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), se reuniu na quarta-feira (16) com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar. Após o encontro, em entrevista a Globonews e confirmado pelo Correio da Manhã, o parlamentar confirmou que está na mesa de discussão a possibilidade de Donald Trump adiar a implementação do tarifado no Brasil, à priori agendado para 1º de agosto.

Contudo, Trump encaminhou uma nota na noite de quinta-feira uma nota ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alegando que está “muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão – tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos – promovidos pelo governo atual” do Brasil. “Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política de tarifas”, diz a nota.