Por: Karoline Cavalcante

Ameaças tarifárias: Brasil manifesta indignação em carta aos EUA

Alckmin assinou a carta aos EUA com Mauro Vieira | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em carta enviada aos Estados Unidos, o governo federal manifestou sua indignação com o recente anúncio do presidente Donald Trump (Republicano) de sobretaxar em 50% os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. No conteúdo, o Palácio do Planalto destaca que a imposição das sanções terá impacto muito negativo em setores de ambas as nações, “colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda” entre os dois países.

O texto é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e é destinado ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnik, e ao representante de Comércio, Jamieson Greer.

Segundo o documento, anteriormente ao anúncio das tarifas, o Brasil tem dialogado com boas intenções com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, “apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos”.

A fala novamente rebate uma das declarações feitas pela Casa Branca para embasar as ameaças — quando disse considerar a relação comercial "muito injusta", marcada por políticas tarifárias e barreiras comerciais, ocasionando um "déficit comercial insustentável". Na verdade, os EUA têm superávit comercial com o Brasil.

Tentativas

Alckmin também menciona que houve diversas tentativas para fazer avançar as tratativas com o governo estadunidense, inclusive, por meio do envio — no dia 16 de maio — de uma minuta confidencial de proposta contendo áreas de que poderiam ser negociadas, com o objetivo de alcançar um acordo mútuo que, até o momento, não foi retornado.

“Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”, finaliza a carta.

Diálogo

Após o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais — criado por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para responder à aplicação de medidas tarifárias unilaterais, por países ou blocos econômicos, prejudiciais ao Brasil — se reunir com os representantes dos setores da indústria e do agronegócio, o vice-presidente afirmou, nesta quarta-feira (16), que o governo brasileiro pretende resolver as sanções ainda neste mês, antes do prazo final para as aplicações. No entanto, disse que, se for necessário, poderá pedir aos EUA o adiamento das tarifas em função das negociações.

“Pudemos ouvir o setor produtivo e reiterar o compromisso com o diálogo, que é o compromisso do presidente Lula, para trabalharmos juntos e reverter este quadro. Houve uma colocação aqui de que o prazo é exíguo, pedindo um prazo maior. Mas a ideia do governo é procurar resolver até o dia 31 de julho”, explicou Alckmin, em coletiva de imprensa.

Na ocasião, o presidente da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), Abrão Neto, se mostrou favorável ao avanço das tratativas entre os governos. “O nosso desejo — que é um sentimento, acho que unânime no setor empresarial aqui no Brasil — é o de se buscar a construção de uma solução negociada entre os dois governos e que aconteça de maneira a impedir um aumento tarifário, que teria impactos muito severos para a economia brasileira e também para a economia americana”, disse o representante.