Por: Karoline Cavalcante

Após ameaças tarifárias, Lula registra alívio em pesquisa Quaest

Lula melhorou em segmentos fora do apoio tradicional | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), ameaçar impor uma tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registra os primeiros sinais de alívio em meio à queda de popularidade. De acordo com a nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (16), a desaprovação ao chefe do Palácio do Planalto ainda é superior à aprovação, mas a diferença entre os dois indicadores diminuiu.

Desde julho de 2024, os levantamentos vinham indicando uma trajetória de crescimento na rejeição ao governo. No entanto, os dados mais recentes mostram uma leve reversão dessa tendência. Entre maio e julho deste ano, a aprovação subiu de 40% para 43%, um aumento de três pontos percentuais, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 53%, uma redução de quatro pontos. Com isso, o saldo negativo passou de 17 para 10 pontos percentuais.

Fora da base

A melhora mais significativa ocorreu fora da base tradicional de apoio ao petista. Entre os eleitores que não se identificam com o PT, a desaprovação caiu de 64% para 56%, enquanto a aprovação subiu de 32% para 40%. A diferença negativa, portanto, foi reduzida de 32 para 16 pontos.

Também houve avanços entre públicos específicos. Entre os eleitores com ensino médio completo, a diferença entre aprovação e desaprovação caiu de 31 pontos percentuais em maio para oito em julho. Entre os que têm renda entre dois e cinco salários mínimos, a diferença caiu de 19 para nove pontos. Já entre os que não recebem o Bolsa Família, a diferença negativa diminuiu de 24 para 14 pontos percentuais.

O perfil político dos entrevistados reforça a polarização já conhecida. Entre os que se identificam como lulistas ou de esquerda, a aprovação permanece acima de 80%. No grupo bolsonarista ou de direita, a desaprovação continua dominante, acima de 87%. No entanto, entre os eleitores que se dizem moderados, o saldo negativo caiu de 28 para 16 pontos percentuais desde a última rodada da pesquisa.

A imagem do governo também apresentou leve melhora na avaliação geral. A fatia que considera o governo ruim ou péssimo caiu de 43% para 40%. Já a avaliação positiva subiu de 26% para 28%, enquanto os que o consideram regular mantiveram-se em 28%.

Ameaças tarifárias

A pesquisa também investigou os fatores que podem ter contribuído para essa recuperação. Um dos elementos analisados foi a repercussão da carta enviada por Trump a Lula, na qual o ex-presidente americano ameaçou aplicar tarifas adicionais a produtos brasileiros. Segundo o levantamento, 66% dos entrevistados tomaram conhecimento do episódio, enquanto 33% não estavam informados.

Entre os que souberam do caso, 79% afirmaram que as tarifas impactariam negativamente suas vidas, e apenas 17% disseram que não seriam afetados. Quando questionados sobre a declaração do republicano de que a relação entre Brasil e Estados Unidos seria injusta, 63% discordaram da afirmação, enquanto 25% concordaram.

Sobre as declarações do líder da Casa Branca em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 72% dos entrevistados consideram equivocada a tentativa de justificar a imposição de tarifas com base na suposta perseguição do ex-chefe do Executivo no Brasil. Apenas 19% concordaram com a argumentação do republicano. 57% avaliaram que Trump não tem o direito de criticar o processo em que Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) — que trata sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado com o objetivo de permanecer no poder em 2022. Já 36% entenderam o contrário.

A percepção dos fatores que podem ter influenciado no anúncio de aplicação de tarifas por parte do presidente estadunidense, estão, respectivamente: as falas de Lula durante o Brics — bloco internacional que reúne as principais economias emergentes — contra Trump, com 26%; as ações do STF contra Bolsonaro, com 22%; a influência do deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos EUA — onde ele reside atualmente para denunciar supostas violações de direitos humanos no Brasil e o andamento do julgamento —, com 17%; e, por fim, as ações da Suprema Corte brasileira contra big techs norte-americanas, com 10%.

Para 55%, o petista provocou o chefe do Executivo norte-americano ao criticá-lo no encontro do Brics — na ocasião, Lula voltou a anunciar que o bloco estuda a criação de uma moeda alternativa ao dólar. Por outro lado, 31% não concordam com o questionamento. A maioria (53%) entende, porém, que o representante do Planalto está certo ao reagir com reciprocidade contra as sanções ameaçadas, contra 39% que consideraram a resposta errada. Questionados sobre qual o lado político está tomando as atitudes mais corretas neste embate, Lula e o PT saíram na frente (44%), Bolsonaro e seus aliados sem seguida (29%), e nenhum dos dois por último (15%). Os que não souberam ou não quiseram responder alcançaram os 12%.

“Ricos contra pobres”

Segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, a economia parece ter um papel coadjuvante na melhora da popularidade do governo, embora a variação seja pequena. “O que mudou pela primeira vez na série histórica foi a expectativa sobre a economia no próximo ano: 43% afirmam que ela deve piorar. Essa mudança deve estar associada à preocupação que as tarifas de Trump provocaram na população”, destacou o cientista político.

Nota-se que esse aumento na popularidade do Executivo não ocorreu devido à estratégia de comunicação voltada à defesa da taxação dos super-ricos. A ideia de “justiça tributária” só ficou conhecida por 43% da população. Na verdade, 79% acredita que o conflito entre o governo e o Congresso mais atrapalha do que ajuda, embora 63% seja favorável ao aumento do imposto dos mais ricos para diminuir o dos mais pobres.

De acordo com Nunes, o motivador do tema ainda não ter ganhado tração não parece ser o conteúdo em si, mas “a forma como foi apresentado”.

“Se a justiça tributária vier acompanhada de uma roupagem ‘ricos contra pobres’ o tema tende a perder força, já que 53% afirmam que essa estratégia cria mais briga e polarização”, explicou. “É a escolha tática que o governo vai ter que fazer assim que retomar o assunto. Se mantiver o clima de confronto social, tende a mobilizar sua base lulista ou de esquerda, mas tende a perder o eleitor moderado de centro”, prosseguiu o diretor do instituto de pesquisa.

O levantamento da Quaest foi realizado entre os dias 10 e 14 de julho, com entrevistas presenciais feitas com 2.004 eleitores em todo o país. A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, tem margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.