Por: Karoline Cavalcante

Lula e Milei discutem por Mercosul

Lula e Milei reforçaram suas divergências sobre o bloco sul-americano | Foto: Ricardo Stuckert / PR

Após críticas do presidente da Argentina, Javier Milei (Partido La Libertad Avanza), ao Mercado Comum do Sul (Mercosul), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu em defesa do bloco sul-americano nesta quinta-feira (3).

Durante a abertura da 66ª Cúpula do Mercosul, realizada em Buenos Aires, capital argentina, Lula classificou o grupo como um refúgio para seus membros diante de um cenário global "instável e ameaçador". Ao final do encontro, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco pelos próximos seis meses, passando a liderar a agenda até o fim do ano.

Durante o discurso, Lula reiterou a importância do fortalecimento da Tarifa Externa Comum, destacou a necessidade de incluir os setores automotivo e açucareiro no regime comercial do bloco e defendeu medidas que consolidem a união aduaneira entre os países do continente.

“Estar no Mercosul nos protege. Nossa Tarifa Externa Comum nos blinda contra guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo como parceiros confiáveis. Enfrentaremos o desafio de resguardar nosso espaço de autonomia em um contexto cada vez mais polarizado”, afirmou.

Prioridades

O chefe do Palácio do Planalto apresentou ainda cinco pilares que nortearão sua gestão à frente do bloco: fortalecimento do comércio entre os países do Mercosul e com parceiros externos; enfrentamento das mudanças climáticas e promoção de uma transição energética justa; desenvolvimento tecnológico; combate ao crime organizado; e promoção dos direitos dos cidadãos.

Uma das prioridades da presidência brasileira será concluir o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Lula também celebrou o fim das negociações com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) — formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein —, anunciadas na quarta-feira (2). O novo acordo estabelece uma zona de livre comércio que reunirá cerca de 300 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) combinado superior a US$ 4,3 trilhões.

O presidente brasileiro também destacou a necessidade de diversificar os mercados e estreitar relações com países da Ásia, como Japão, China, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Indonésia."Estou confiante de que até o fim deste ano assinaremos os acordos com a União Europeia e com a EFTA, criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo. Avançaremos nas tratativas com o Canadá e Emirados Árabes. É preciso trabalhar com o Panamá e a República Dominicana e atualizar os acordos com Colômbia e Equador. É hora do Mercosul olhar para a Ásia, centro dinâmico da economia mundial”, declarou.

“Cortina de ferro”

Apesar de também ter reconhecido os avanços nos acordos com a EFTA e a União Europeia, o presidente argentino não poupou críticas à estrutura atual do bloco. Em seu discurso, Milei condenou o que classificou como excesso de burocracia e as barreiras comerciais impostas pelo Mercosul.

Antes de transferir a presidência rotativa para o Brasil, Milei afirmou que a proteção comercial promovida pelo bloco acabou por levantar uma “cortina de ferro” que isolou o Mercosul do comércio internacional, penalizando os cidadãos com serviços e produtos de pior qualidade e a preços mais altos. Segundo ele, a Argentina optou por seguir "o caminho da liberdade" durante sua gestão, cabendo agora aos demais membros decidirem se desejam acompanhá-lo.

"Se o Mercosul foi criado com a intenção nobre de integrar as economias da região, em algum momento esse norte foi afundando e a ação comercial conjunta terminou por prejudicar a maioria dos nossos cidadãos em prol de privilegiar alguns setores", disse o chefe da Casa Rosada.