Em uma carta enviada nesta terça-feira (1º) à revista britânica The Economist, o governo brasileiro rechaçou as críticas feitas pela publicação sobre a postura internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O artigo, publicado no último domingo (29), questionava a popularidade interna e a crescente influência de Lula no cenário global, sugerindo que o chefe do Palácio do Planalto estaria se distanciando das democracias ocidentais. O governo sentiu a crítica, e respondeu à revista.
Assinada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a carta defende que o presidente brasileiro sustenta com coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Segundo ele, esses valores são fundamentais para a atuação internacional do Brasil, com ênfase na liderança do país no G20 — fórum internacional que reúne as maiores economias do mundo —, onde, em 2024, buscou construir um consenso global no combate à fome e à pobreza. Além disso, o ministro acrescentou que, na ocasião, também foi apresentada “uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas".
Também destacou a Cúpula do Brics — um mecanismo de cooperação internacional entre economias emergentes —, que está sendo presidido pelo Brasil neste ano e ocorrerá no próximo domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro. Para o Itamaraty, o grupo é considerado um ator fundamental na busca por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. “Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade”, complementou o chanceler.
“Exemplo raro”
O documento sublinha que, sob a liderança de Lula, o Brasil se tornou um “exemplo raro de solidez institucional e defesa da democracia", cumprindo as regras do comércio internacional e oferecendo segurança aos investidores. Além disso, reafirma o compromisso com o direito internacional e a resolução pacífica de disputas. Também enfatiza sua posição contra a escalada militar no Oriente Médio, defendendo que os conflitos internacionais sejam resolvidos por meios diplomáticos, assim como condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra. A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala)”, diz o trecho.
Artigo
O artigo da The Economist destacou o distanciamento de Lula em relação aos Estados Unidos, com ênfase na falta de aproximação com o presidente Donald Trump (Partido Republicano). A revista sugeriu que essa postura poderia enfraquecer a posição do Brasil no cenário internacional.
Como exemplo, criticou a condenação feita por Lula aos ataques militares norte-americanos contra instalações nucleares iranianas, atitude considerada pelo texto como em “desacordo com todas as outras democracias ocidentais, que ou apoiaram os ataques ou apenas expressaram preocupação”.
A revista também mencionou a tentativa fracassada de Lula de mediar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e as dificuldades em encontrar um caminho de diálogo com outros líderes de direita, como o presidente argentino Javier Milei (Partido La Libertad Avanza)
Segundo a publicação, a popularidade do petista tem enfrentado queda acentuada em seu atual mandato, cenário agravado pela recente derrota da equipe econômica ao tentar implementar um decreto que previa o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A matéria também especula sobre o futuro da direita brasileira, sugerindo que, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responde criminalmente a uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) por articular uma tentativa de golpe de Estado — consiga apontar um sucessor viável e houver união em torno desse nome, o campo oposicionista retornará ao poder nas eleições de 2026.