Por: Karoline Cavalcante

Negociações sobre IOF devem ser retomadas com retorno de Haddad

Fernando Haddad participou de debate em Brasília | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Uma semana após a Câmara dos Deputados aprovar a urgência para o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 314/2025, que suspende a alternativa apresentada pelo governo ao aumento de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, retorna de suas pequenas férias. A expectativa agora é que as negociações sobre o tema sejam retomadas.

A decisão do chefe da equipe econômica de antecipar em um mês sua folga ocorreu em meio às tentativas de encontrar um consenso entre o Executivo e o Legislativo sobre o assunto. Mesmo após a Fazenda apresentar uma nova proposta relacionada ao IOF — após a rejeição do decreto inicial —, o acordo ainda não foi alcançado. A urgência, aprovada por ampla maioria na última segunda-feira (16), foi interpretada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), como um recado ao governo sobre o sentimento da Casa.

“O governo está entendendo esta mensagem. A Câmara vai continuar defendendo o que é melhor para o Brasil”, declarou Motta à imprensa.

Não vai ceder

Por outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender a proposta e indicou que não vai recuar. “O IOF do Haddad não tem nada de mais, então essa briga nós temos que fazer. Não dá para ceder toda hora”, afirmou Lula em entrevista ao podcast Mano a Mano na última quinta-feira (19).

“O Haddad quer que as bets paguem [mais] imposto de renda; que as fintechs paguem; que os bancos paguem. Só um pouquinho, para a gente poder fazer a compensação, porque toda vez que a gente vai ultrapassar o arcabouço fiscal, temos que cortar no Orçamento”, acrescentou o petista.

Para os opositores à medida, a crítica está centrada justamente nos cortes escolhidos para compensar o Orçamento. Eles defendem que o governo reduza os gastos primários. Enquanto isso, a gestão busca aumentar a tributação de outros setores como alternativa compensatória.

Disputa por autoridade

Ao Correio da Manhã, o cientista político Elias Tavares avaliou que o cenário envolvendo o IOF é apenas mais um capítulo de um problema maior. Segundo ele, o governo Lula perdeu a capacidade de conduzir politicamente as pautas econômicas no Congresso. Portanto, não se trata de um embate técnico sobre alíquotas, mas de uma disputa por autoridade.

“A Câmara dos Deputados hoje opera com autonomia total e, mais do que isso, exerce o poder real. É ela quem dita o ritmo, os limites e até mesmo o conteúdo das políticas públicas”, iniciou. “O Executivo vem acumulando derrotas sucessivas, revelando uma articulação frágil e uma base aliada instável”, completou o analista.

Com isso, Tavares entende que a tendência é o Planalto ser obrigado a ceder novamente — o que, para ele, tem um custo alto. “Institucionalmente, corrói a imagem de liderança; politicamente, enfraquece a governabilidade. Se não houver uma virada estratégica urgente, o Planalto continuará refém de um Congresso fortalecido, o mais grave, cada vez menos disposto a colaborar”, explicou o cientista político.