Por: Karoline Cavalcante

Haddad tira folga em meio à crise do IOF

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Em meio à disputa sobre as alternativas do governo federal para o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu antecipar suas férias para esta segunda-feira (16) — justamente no dia em que estava prevista a votação do pedido de urgência para o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 314/25, que visa suspender o novo decreto do Executivo.

Originalmente, Haddad havia agendado suas férias para o período de 11 a 20 de julho, mas a data foi antecipada para até o próximo domingo (22), conforme despacho publicado no Diário Oficial da União (DOU). Neste período, o secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, assume interinamente a função.

A decisão de Haddad de se ausentar neste momento de tensão política, no entanto, não ajuda a melhorar a imagem da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já vem enfrentando desafiadores resultados nas últimas pesquisas eleitorais. Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político André Rosa analisou o gesto, sugerindo que a mudança das férias pode ser vista como uma tentativa de evitar admitir uma derrota política.

Fuga

“Me parece muito mais uma fuga para não encarar a derrota. É claro que, talvez, o cálculo político seja de que, com ou sem férias antecipadas, a derrota seria inevitável. Fazer isso em um momento tão complicado é dar para a oposição uma eventual perspectiva de desleixo com a máquina pública, visto que o ministro da Fazenda é talvez o mais importante do governo neste momento soa muito mal. Eu não vejo como positivo, pelo contrário”, explicou.

O cientista político também destacou a relação tensa de Haddad com os parlamentares, especialmente evidenciada durante sua ida à Câmara dos Deputados na última quarta-feira (11), para prestar esclarecimentos em audiência pública das Comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle. Embora a reunião tivesse o objetivo de discutir outras medidas, o ponto de maior confronto ocorreu quando o aumento do IOF foi abordado, gerando um embate direto entre o ministro e deputados oposicionistas.

“O Haddad também já sentia que não havia mais clima. Por isso, ele antecipou suas férias. Eu vejo que isso vai pegar de uma forma muito negativa para o governo”, avaliou Rosa.

Hugo Motta

A discordância também afeta os próprios integrantes do governo. De acordo com informações divulgadas pelo UOL, em um jantar organizado por advogados do grupo Prerrogativas na última sexta-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lamentou a crescente tensão entre o Executivo e o Legislativo. Como exemplo, ele citou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destacando uma postura mais conciliatória durante sua gestão.

"Na gestão do presidente Arthur Lira, ele disse antes da minha posse, ainda na PEC da Transição, ele falou: 'Haddad, eu não vou misturar as nossas brigas com o governo com a questão econômica. Nós vamos resolver a questão econômica num outro ambiente", iniciou.

“Nós não podemos deixar uma coisa que está acontecendo. Uma coisa é um partido e outro divergirem. Cada um tem uma visão. Um é mais progressista, um é mais conservador. Faz parte. Nós não podemos deixar isso virar conflito entre poderes, isso é muito ruim, porque resulta em crise institucional. Tem que ficar no plano dos partidos", prosseguiu Haddad.

Sem citar nomes, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, saiu em defesa da condução dos trabalhos do atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ela destacou que o relacionamento entre os dois Poderes tem se caracterizado por “responsabilidade e firmeza nos encaminhamentos acordados em comum”.

“No comando da Câmara, [Motta] trouxe previsibilidade na pauta legislativa sempre fruto do colégio de líderes, que expressa manifestações dos parlamentares. Tratamos às claras dos interesses do país e isso tem sido fundamental para a tramitação das propostas do governo no Legislativo”, afirmou Hoffmann em sua rede social X (antigo Twitter).

Enquanto isso, também nesta segunda-feira, Motta declarou à imprensa que a votação do PDL servirá como uma espécie de mensagem ao governo. “Será simbólica pelo sentimento da Casa e vamos aguardar os próximos passos. A Câmara vai continuar defendendo o que é melhor para o Brasil”, disse o deputado.