Por: Karoline Cavalcante

História do passaporte jogou suspeita sobre Mauro Cid

Gilson Machado foi preso pela manhã e solto na noite de sexta-feira | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Desde o início do acordo de colaboração premiada que fechou, o Supremo Tribunal Federal (STF) confia no tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, desconfiando ao mesmo tempo. Tanto que em diversos momentos Mauro Cid voltou a ser preso. O risco disso acontecer novamente voltou na sexta-feira (13). A Polícia Federal prendeu o ex-ministro do Turismo Gilson Machado e ameaçou fazer o mesmo com Mauro Cid.

A prisão aconteceu porque havia uma suspeita de que Gilson Machado estava tentando obter um passaporte português para Mauro Cid, como parte de um plano para que ele fugisse do país. Ao final do dia, a prisão do tenente-coronel relator não aconteceu. O ministro relator da ação penal sobre tentativa de golpe, Alexandre de Moraes, optou por novamente convocar Cid para depor na PF. Ali, ele reafirmou seus compromissos de colaboração e foi liberado. Na noite de sexta, Moraes soltou também Gilson Machado, por entender que os riscos da tentativa de fuga estavam superados.

Delação

O episódio acaba se somando a uma estrategia que a defesa de Jair Bolsonaro e dos demais réus faz no sentido de tentar relativizar a delação premiada feita por Mauro Cid, criando pontos nas quais ela não se sustenta para comprometê-la como prova.

Durante os depoimentos dos réus na semana passada, isso ficou claro quando o advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, perguntou a Mauro Cid se ele teria usado algum celular e perfil nas redes sociais de terceiros. E mencionou um perfi que pertence á mulher do tenente-coronel, Gabriela. Mauro Cid negou, mas ficou claro que a defesa já sabia do uso. Isso acabou explicitado numa reportagem publicada pela revista Veja esta semana.

Como a delaçao é o ponto ogirinal da denúncia, a estrategia da defesa é, ao comprometê-la, tentar comprometer a denúncia. Na avaliaçao dos procuradores que trabalharam na denúncia e dos ministros do STF, porém, isso nao mais se sustenta. A partir do que disse Mauro Cid, foram feitas diversas investigações e encontradas várias provas. Boa parte do que aconteceu acabou admitida pelos reus, inclusive Bolsonaro, nos depoimentos. Assim, a delação de Mauro Cid foi ultrapassada por outras provas e já não seria mais tão importante.

Machado

Ao ser preso, Machado negou que buscasse passaporte para Mauro Cid. Disse que sua intenção era obter o documento para o seu pai. De qualquer modo, foi preso preventivamente.

O pedido nesse sentido fora feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na terça-feira (10). O requerimento também aponta a existência de indícios que ligariam o ex-ministro a campanhas de arrecadação financeira em favor de Bolsonaro. Há a argumentação de que Machado teria utilizado o seu perfil no Instagram para pedir doações em dinheiro que seriam destinadas ao ex-presidente.

Em nota enviada por sua assessoria, Machado negou qualquer envolvimento em práticas ilegais e afirmou que seu contato com o Consulado de Portugal teve como único objetivo buscar informações para a renovação do passaporte de seu pai, um idoso de 85 anos. “Venho a público reafirmar minha total inocência. Não cometi crime algum. Não matei, não roubei, não trafiquei drogas”, iniciou.

“É só verificarem as ligações que fiz para o consulado e os áudios que enviei aos funcionários. Eu nunca estive presente em nenhum consulado ou embaixada — nem de Portugal, nem de qualquer outro país — seja no Brasil ou no exterior. Tudo o que fiz foi um gesto de cuidado com meu pai, nada além disso. A justiça divina tarda, mas não falha”, prosseguiu.

O Partido Liberal, ao qual Machado é filiado, divulgou que acompanha o caso com atenção e aguarda mais informações. Já o filho do ex-ministro, Gilson Filho (PL) — atual vereador de Recife — lamentou a prisão: “Estou muito triste com isso. O meu pai é um exemplo para mim e me ensinou valores importantes como integridade e família. Nunca cometeu um crime em toda a sua vida. Honro esses ensinamentos e estarei junto dele e da minha mãe, apoiando meus pais neste momento”, publicou em sua rede social X (antigo Twitter).