Por: Gabriela Gallo

Direita dividida pode impactar corrida eleitoral, avaliam analistas

Tarcísio de Freitas, governador do Estado de São Paulo, também está entre os Chefes do Executivo Estadual presentes ao Fórum | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Com o andamento do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o núcleo principal do plano de tentativa de golpe de Estado, nos bastidores aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitem que as chances dele não ser condenado não muito baixas. Com isso, a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa a acelerar as discussões e articulações sobre as possíveis alternativas a representar a direita brasileira na corrida eleitoral em 2026.

O principal nome cotado é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Infraestrutura na gestão de Jair Bolsonaro. Ao Correio da Manhã, o mestre em ciência política Felipe Rodrigues destaca que Tarcísio atualmente é o principal candidato da direita, já que ele “guarda identidade com o setor, mas com perfil mais pragmático e palatável ao centro”.

“O grande diferencial é que Tarcísio consegue algo que Bolsonaro teve com dificuldade: capacidade de diálogo com poderes constituídos e setor privado. Sua estratégia combina elementos da direita ideológica com institucionalidade na gestão”, ele avaliou.

A reportagem ainda conversou com o coordenador de Análise Política e Legislativo na BMJ Consultores Associados Lucas Fernandes. Ele completou que Tarcísio ganha força por controlar “a segunda maior máquina pública do país, que é o estado de São Paulo”, além de ter uma boa avaliação.

Divisão

Porém, Lucas Fernandes observa que a direita brasileira atualmente se encontra dividida, o que se torna o principal problema para tentar consolidar o nome de Tarcísio.

“A direita nesse momento parece estar mais dividida do que caminhando em prol de uma candidatura unificada. De um lado, está o ex-presidente Jair Bolsonaro que até o momento tem reforçado a ideia de que é candidato à Presidência, mesmo que nos bastidores ele saiba que ele vai estar inelegível e muito provavelmente preso em decorrência do julgamento no STF. Ele sabe que não tem perspectivas de ser candidato à Presidência, mas não admite isso publicamente. E. nos bastidores, o Bolsonaro tem se mostrado muito mais favorável a que um dos seus filhos o substitua”, afirmou o analista político.

Fernandes avalia três nomes da família do ex-presidente cotados como alternativas para concorrer à Presidência da República em 2026: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Apesar de Michelle não ter experiências políticas anteriores, apesar de ser presidente Nacional do PL Mulher, ela ganhou notória visibilidade, especialmente dentro do segmento evangélico (especialmente as mulheres evangélicas).

E para além de nomes considerados mais radicais, o analista político ponderou que há “uma parcela da direita, focada mais dentro do Centrão, que defende uma candidatura mais moderada, que conserve o apoio do segmento bolsonarista, mas que não venha necessariamente de um apadrinhamento do Bolsonaro”.

Apoio

Questionados, ambos os analistas políticos acreditam que Tarcísio teria chances de vencer uma disputa contra o atual presidente Lula, considerando as últimas pesquisas que apontam impopularidade e, consequentemente, uma fragilidade do atual governo. Felipe Rodrigues avalia que, “matematicamente, Tarcísio pode conquistar os 25% da base bolsonarista, somar a centro-direita e uma fatia do centro”. Contudo, ele relembra que, regionalmente, outro desafio seria nacionalizar a figura do governador de São Paulo para o resto do país. “Governar São Paulo é uma coisa, conquistar o Nordeste é outra”, apontou o cientista político.

Mas outro obstáculo para os candidatos de direita é a falta de apadrinhamento do ex-presidente. Há uma tendência de que Bolsonaro se comporte da mesma maneira que o atual presidente Lula em 2018. Na época, Lula estava preso e inelegível, mas insistiu em sua candidatura e registrou Fernando Haddad como seu vice. Lula somente lançou Haddad como principal candidato para a disputa após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferir a sua candidatura em decorrência da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010). Alguns avaliam que essa demora em apadrinhar Haddad contribuiu para que ele perdesse força no segundo turno – o que também pode acontecer com o então candidato de Bolsonaro.

Mas mesmo com esse risco, Rodrigues dissertou que “Bolsonaro está jogando várias partidas simultaneamente, e sua estratégia de não anunciar ainda um aliado tem lógica política”.

“O timing judicial é determinante: o julgamento de Bolsonaro no STF deve se estender ainda mais um pouco, e uma decisão não surgirá antes. Além disso, anunciar agora [um nome no lugar dele] equivaleria a sair de cena prematuramente e transferir holofotes para o futuro candidato, iniciando um desgaste antecipado”, ponderou o mestre em ciência política.