Por: Gabriela Gallo e Tales Faria

Fórum do Brics começa com discussão sobre alternativa ao dólar

Tradd defendeu o fortalecimento do bloco | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O primeiro dia 11º Fórum Parlamentar do Brics no Congresso Nacional, nesta terça-feira (3), tratou de temas como diversidade de gênero, desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável e inteligência artificial (IA). Com 150 parlamentares de 15 países diferentes, o evento segue nesta quarta (4) e quinta-feiras (5). Os painéis desta quarta serão abertos pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Acolumbre (União Brasil-AP). Nesta terça-feira, foram realizados diversos painéis divididos um dois grupos: um com foco na participação e atuação feminina nas pautas globais e outro focado no comércio global e nas relações exteriores entre os países participando da edição deste ano.

Estão em terras brasileiras para participar do encontro as delegações de: Rússia, Índia, China, África do Sul, Etiópia, Emirados Árabes, Indonésia, Irã, Egito, Cuba, Bolívia, Nigéria, Cazaquistão e Belarus.

Sustentabilidade

Em entrevista coletiva, o coordenador do Fórum Parlamentar do BRICS, deputado Fausto Pinato (PP-SP), destacou que os países membros do grupo precisam focar em soluções mais pragmáticas e menos ideológicas para resolverem suas questões. Dentre os pontos, ele reiterou tal necessidade para as discussões voltadas para o meio ambiente e desenvolvimento sustentável. “Chegou o momento de achar um equilíbrio. Acho que a esquerda está desatualizada e a ultra-direita é muito agressiva e irresponsável”, avaliou o parlamentar.

Questionado pela imprensa, ele ponderou que é necessária a preocupação com o meio ambiente e as mudanças climáticas, porém, elas não podem impedir o desenvolvimento do país. Ele reiterou que não é necessário maior desmatamento para a produção do agronegócio, mas sim para aproveitar a área e desenvolver tecnologia aliada ao meio.

“Nós não precisamos mais desmatar para aumentar nossa produção de agro[negócio], já temos área desmatada demais. O que nós podemos fazer é ter dinheiro para fomentar isso, tecnologia e trazer esse dinheiro de preservação para algumas questões tecnológicas para que possamos desenvolver o nosso país”, destacou Pinato.

Hegemonia

A guerra comercial promovida por meio de tarifas adotadas de forma unilateral pelos Estados Unidos foi um dos principais tópicos nas discussões, alvo de críticas de diversos parlamentares, tanto brasileiros quanto estrangeiros.

O Brics discute adotar o uso de moedas locais para o comércio entre seus países para substituir a moeda norte-americana. A proposta não foi bem avaliada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem adotando uma política monetária protecionista. Ele e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocaram farpas devido ao assunto.

Questionado durante entrevista coletiva, o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), confirmou que o multilateralismo – cooperação entre vários países para alcançar um objetivo comum – pode reduzir a hegemonia e dependência do dólar para o comércio entre os países do grupo.

“Eu penso que tudo o que possa vir a facilitar o entendimento comercial desse grupo deve ser estudado, fomentado e estimulado. É lógico que fazer um enfrentamento desse com uma moeda que já tem uma tradição de décadas constituída na vida da sociedade global não é uma tarefa fácil. Mas o importante é que esse assunto possa ser debatido e que ele possa ser visto mundo afora como uma alternativa que se tem desse grupo que, unido, tem quase a metade dos habitantes do planeta uma grande parte do PIB [Produto Interno Bruto] mundial”, destacou Nelsino Tradd.

Ao Correio da Manhã, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), destacou que “cada país escolhe os seus governantes” e o que achar que é o melhor para si. Contudo, o Brasil não pode ficar refém das decisões estadunidenses.

“Esses ajustes que a economia americana vem fazendo, nós temos que saber sentar à mesa, discutir e saber tirar a melhor vantagem para o nosso país. Cada um olha o seu país. Nessas discussões não tem país amigo, tem país que é parceiro, mas nós temos que olhar os interesses do Brasil”, destacou a senadora.

Mulheres

Um diferencial da edição do Fórum Parlamentar do Brics deste ano, segundo o coordenador Fausto Pinato, são debates quanto à igualdade e diversidade de gênero na política e nos espaços de poder. “A democracia só se faz com a participação de mulheres”, disse a coordenadora da bancada feminina na Câmara dos Deputados, Jack Rocha (PT-MG).

Em entrevista à imprensa, a deputada Jack Rocha citou a diferença de representatividade feminina no Parlamento brasileiro e outros ao redor do mundo. “Os Parlamentos dos Brics têm uma grande diversidade, alguns deles têm representação paritária acima de 30% de sua representação. E nós aqui na Câmara [brasileira], mesmo diante da maior bancada feminina da Câmara, temos uma representação com pouco mais de 18%. Isso se contrasta quando se fala da produção legislativa da Casa, as parlamentares são responsáveis por mais de 40% da produção legislativa”, destacou a parlamentar.