Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o líder da Oposição no Senado Federal, Rogério Marinho (PL-RN), defendeu nesta segunda-feira (2), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022. O senador, que à época atuava como ministro do Desenvolvimento Regional do governo, negou que o ex-presidente indicava qualquer pretensão de ruptura com a democracia.
Segundo Marinho, embora houvesse uma chateação coletiva na gestão sobre o resultado eleitoral, ele afirma ter notado uma forte preocupação de Bolsonaro para que não “houvesse excessos”, e que a transição do cargo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — vencedor do pleito — fosse feita com civilidade.
“Todos estávamos chateados, não esperávamos a derrota, era um pleito duro. Não é fácil uma derrota na circunstância que ocorreu, com um placar apertado. O vi preocupado que não houvesse bloqueios de rodovias, que interferisse o direito de ir e vir do cidadão. Havia ainda uma preocupação em não ver nele colada uma pecha de que estaria disposto a prejudicar o país, a economia do país”, declarou.
O parlamentar foi convocado para testemunhar pelas defesas do ex-chefe do Palácio do Planalto e do ex-ministro da Casa Civil, o general Walter Braga Netto — que foi o candidato a vice da chapa presidencial derrotada no segundo turno daquele ano. Segundo o congressista, nas reuniões depois do resultado das eleições, o que se tratou foi o fortalecimento do Partido Liberal nas eleições municipais, além de ter conversado com Braga Neto sobre as possíveis razões do insucesso no pleito.
Rogério Marinho foi a última testemunha do “Núcleo Um” ouvida pela Suprema Corte. Desde o dia 19 de maio, 52 pessoas prestaram depoimentos indicados pelos oito réus. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o grupo analisado é responsável pela suposta organização golpista. Participaram da audiência nesta segunda-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator da ação, o vice-procurador-geral eleitoral, Alexandre Espinoza, e os advogados de defesa dos investigados.
Agora, o próximo passo será o interrogatório dos réus, que foi marcado para começar na próxima segunda-feira (9), de forma presencial. O primeiro a depor será o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro e delator nas investigações.
Polícia Federal
Na mesma data, o líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), prestou depoimento à Polícia Federal, no âmbito de um inquérito que investiga as atividades do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. O filho do ex-presidente tem se encontrado com autoridades norte-americanas para discutir a imposição de sanções contra ministros do STF, integrantes da PGR e da PF. Na avaliação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, essas ações seriam motivadas em retaliação aos processos em andamento no STF contra Bolsonaro e seus aliados.
Farias, que é o autor da representação que levou a PGR a solicitar a investigação sobre Eduardo, acusa o deputado de coação, obstrução da Justiça e tentativa de desestabilizar o Estado Democrático de Direito. Em declaração à imprensa após o depoimento realizado em Brasília, o petista afirmou que entregou documentos onde estão caracterizados os crimes. Para ele, a situação é muito grave e “estamos caminhando para uma crise diplomática seríssima”.
Entre os pedidos entregues na peça à corporação, está o requerimento do bloqueio imediato das contas de Jair Bolsonaro. Lindbergh também solicita a quebra de sigilo bancário e fiscal do ex-presidente e demais envolvidos. “para fins de rastrear valores enviados ao exterior com indícios de desvio de finalidade na arrecadação por Pix para financiar estrutura no exterior destinada a atacar o sistema de justiça brasileiro”, diz trecho do documento.