Por: Karoline Cavalcante

‘Me senti agredida’ diz Marina Silva sobre audiência no Senado

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva tem apontado para os riscos da devastação | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou ter se sentido “agredida” durante sua participação, nesta terça-feira (27), na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado Federal. A reunião, que discutia o projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental, foi marcada por críticas contundentes à atuação da pasta, desentendimentos com senadores e falas consideradas ofensivas e misóginas.

"Eu me senti agredida fazendo o meu trabalho. Fui chamada para mostrar tecnicamente que as unidades de conservação propostas para o Amapá não impactam os empreendimentos”, declarou Marina à imprensa ao deixar a sessão. Segundo ela, o episódio está sendo analisado por sua equipe jurídica.

“Se ponha no seu lugar”

O primeiro embate ocorreu com o senador Omar Aziz (PSD-AM), que questionou a demora na liberação das obras de pavimentação da BR-319, entre Manaus e Porto Velho. Em sua resposta, Aziz acusou Marina de atrapalhar o desenvolvimento do país e afirmou que ela “não é mais ética do que ninguém”.

Durante a audiência, Marina teve o microfone cortado diversas vezes pelo presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), que também a ironizou e sugeriu que ela levasse o debate a uma reunião interna do governo. A ministra reagiu: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou. Eu vou falar”.

Rogério então rebateu: “Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar”. A resposta gerou um momento de tensão e protestos da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), líder do partido na Casa. “Que isso, presidente? Que desrespeito é esse com a ministra? Ponha-se o senhor no seu lugar. Isso é um absurdo!”, declarou.

Respeito

O episódio mais forte, no entanto, ocorreu durante a fala do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que afirmou fazer distinção entre a “mulher Marina” e a “ministra Marina”, dizendo que apenas a primeira mereceria respeito. “Ministra Marina, que bom reencontrá-la. E, ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Eu não estou falando com uma mulher. A mulher merece respeito, a ministra não. Por isso quero separar”, declarou Plínio.

Ofendida, Marina exigiu um pedido de desculpas para permanecer na audiência. Diante da recusa, deixou a sessão.

“Se fui convidada como ministra e não há respeito nesse papel, não faz sentido eu continuar”, disse. A saída foi sugerida por questão de ordem apresentada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), que saiu em defesa da representante. “O debate político pode ser caloroso, pode expressar divergências. Mas manifestações de desrespeito são inaceitáveis”, afirmou.

O embate entre Marina e Plínio não é novo. Em março, após uma audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, o senador disse que sentiu vontade de “enforcá-la” após ouvi-la por mais de seis horas. Na época, Marina afirmou que brincar com a vida dos outros é algo que só os psicopatas fazem.

Ao encerrar a sessão desta terça-feira, o presidente da comissão anunciou que irá pautar a convocação da ministra para uma próxima reunião, já que ela saiu antes do final da sessão. Nesta sessão, ela participou como convidada.

Solidariedade

Ao Correio da Manhã, a assessoria de imprensa do Ministério do Meio Ambiente informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por ligação após o episódio e brevemente disse que ela tomou a decisão certa de se ausentar da comissão. Lula está de repouso no Palácio da Alvorada após diagnóstico de labirintite. O Ministério da Mulher e a Secretaria de Relações Institucionais também emitiram nota repudiando o ocorrido

Para a Bancada Feminina do Senado Federal, a situação não se trata de um “caso isolado”, e sim de “mais uma expressão da violência de gênero que tantas mulheres enfrentam nos espaços de poder”.