Por: Karoline Cavalcante

Carla Zambelli vai recorrer à condenação do STF

Zambelli afirmou não haver nenhuma prova contra ela no processo | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A defesa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) informou nesta quinta-feira (15) que vai recorrer da decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), quel por unanimidade, a condenou a dez anos de prisão. Ela é acusada de idealizar uma invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica. Além da pena, a parlamentar também foi sentenciada à perda do mandato e ao pagamento de R$ 2 milhões por danos morais coletivos, valor que deverá ser dividido com o hacker Walter Delgatti — também condenado no processo, que ela teria contratado para executar a invasão do sistema.

Durante coletiva de imprensa na sede do Partido Liberal, em São Paulo, Zambelli, acompanhada de seu advogado, Daniel Bialski, apontou discrepâncias dentro do processo. Segundo a deputada, os depoimentos feitos por Delgatti à Polícia Federal apresentam contradições e ela alegou não saber a verdadeira motivação dele em acusá-la. “Em cada um dos depoimentos ele contou uma versão”, afirmou.

Defesa

Na ocasião, Bialski criticou o fato de o julgamento ter sido procedido em plenário virtual, sem a possibilidade de sustentação oral — principalmente se tratando de um processo que ocorre no último grau do Judiciário, com pouca possibilidade de apresentação de recursos.

“É uma afronta, não só ao direito de defesa da Carla, mas a todas as pessoas que vierem a ser julgadas pelo STF. Faço uma súplica para que os ministros mudem esse tipo de procedimento”, declarou. Na avaliação do advogado, não há nenhuma prova de que Zambelli tenha feito qualquer pedido ao hacker, a quem chamou de “mentiroso contumaz”.

“Não tem uma mensagem, não tem uma ligação, não tem um e-mail, não tem nada que diga que ela tenha pedido, mandado ou encomendado qualquer tipo de coisa”, afirmou Daniel Bialski.

“Seria burrice”

De acordo com a parlamentar, a tentativa de emissão de um mandado falso de prisão contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, no sistema do CNJ — conforme consta no processo, “seria burrice”.

“Eu não colocaria meu mandato em risco por causa de uma brincadeira sem graça", disse.

Embora tenha novamente eximido o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de qualquer relação com o caso, Zambelli declarou que ele não a procurou após a decisão da Corte. "De um tempo para cá, eu não esperava ser acolhida. Numa situação como a gente está, é difícil você esperar o acolhimento das pessoas. Mas eu sei que eu tenho o acolhimento da família. A Michelle já me procurou, o [senador] Flávio Bolsonaro, o [deputado licenciado] Eduardo Bolsonaro comentou o meu caso. E eu acho que isso, para mim, é suficiente para mostrar que todo o meu trabalho não foi em vão", afirmou

Saúde

Ela relatou, ainda, que possui alguns problemas de saúde como a síndrome de Ehlers-Danlos, que provoca deslocamentos nas articulações e órgãos; a síndrome de taquicardia ortostática postural, condição que causa batimento cardíaco acelerado ao ficar muito tempo em pé; além de manter um tratamento contra depressão. Questionada se essas condições poderiam ser utilizadas para embasar uma prisão domiciliar, Zambelli disse que, se necessário, isso será apresentado em momento oportuno.

“Ainda que seja injusta, eu vou seguir a decisão. Eu sigo a lei, sigo ordem judicial. Se acontecer de ter a prisão, eu vou me apresentar. Mas meus médicos são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia”, declarou a deputada. Ao se aproximar do fim da entrevista, um de seus assessores a interrompeu para lhe entregar água e medicamentos.

A sentença, definida por unanimidade, contou com o voto do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que classificou as ações como uma "afronta direta à dignidade da Justiça". Ele foi acompanhado pelos demais membros da Primeira Turma: Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Zambelli também é ré em outra ação no STF, por perseguir um jornalista armada durante as eleições de 2022.