Por: Karoline Cavalcante

Influenciador envolvido com "Tigrinho" depõe em CPI

Rico Melquíades reclamou do tratamento recebido na CPI | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O influenciador digital Luiz Ricardo Melquiades, conhecido como Rico Melquiades, prestou depoimento nesta quarta-feira (14) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado Federal. Campeão do reality show “A Fazenda 13”, ele acumula mais de dez milhões de seguidores nas redes sociais. Durante a sessão, o influenciador negou ter utilizado “contas de demo” — perfis especiais disponibilizados por empresas nas plataformas digitais, com o objetivo de gerar resultados positivos em jogos — para a realização de publicidades.

“Eu posso falar do que eu divulgava, que eu perdia e ganhava também... Não tenho conhecimento sobre. Desde janeiro, eu crio o meu usuário. Tem que colocar seu documento, seu CPF. Eu que boto dinheiro na conta para fazer as divulgações”, declarou.

A convocação de Melquiades foi solicitada pela relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). A justificativa para o requerimento foi o envolvimento do influenciador na Operação “Game Over 2”, deflagrada pela Polícia Civil de Alagoas. A operação investiga a promoção irregular de jogos de azar online, por meio de influenciadores digitais. O foco da investigação é o chamado “Jogo do Tigrinho”, uma modalidade de aposta não autorizada pelo Estado.

Campanhas

Soraya destacou a importância da presença de Melquiades na CPI para entender como são estruturadas as campanhas de divulgação de jogos ilegais, além de elucidar os vínculos entre influenciadores e essas plataformas, e como tais práticas impactam negativamente a sociedade, especialmente os grupos mais vulneráveis.

Questionado sobre um acordo de não persecução penal com o Ministério Público de Alagoas, Rico admitiu ter assinado o acordo, mas negou ter conhecimento das ilegalidades envolvidas nas atividades investigadas, como lavagem de dinheiro e vínculos com organizações criminosas.

“Eu fazia [propaganda para] a Blaze”, disse ele, referindo-se a uma casa de apostas com sede na ilha de Curaçao, paraíso fiscal no Caribe. “Eu desconheço esse negócio de formação de quadrilha. A minha relação com as plataformas de apostas foi só como influenciador; fiz campanhas publicitárias. Tudo foi documentado de forma legal. Eu sempre segui as regras que eram vigentes na época”, afirmou Melquiades, que se comprometeu a entregar cópias dos contratos aos senadores.

A pedido dos parlamentares, Melquiades demonstrou, em seu celular, como realiza apostas no jogo do tigrinho. Ele mostrou ter ganhado nas primeiras rodadas, mas também perdeu em outras. Quando a senadora Soraya solicitou que ele entrasse em outro jogo, Melquiades se recusou.

Em alguns momentos, o influenciador mencionou a oitiva de Virgínia Fonseca, que depôs na última terça-feira (13). Para ele, o tratamento dispensado à empresária foi diferente do que recebeu. “Vocês pediram para a Virginia fazer isso, jogar assim?”, questionou.

"Sabe o que eu estou sentindo aqui na CPI? Que o tratamento com a Virginia ontem foi diferente do meu. Sinto que vocês estão me pressionando muito. Ontem, era risada, era selfie, foto no Instagram", reclamou Rico.

Não compareceu

A advogada de outra influenciadora, Deolane Bezerra, Adélia de Jesus Soares, foi convocada para depor junto com Melquiades, mas não compareceu, amparada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No início deste mês, a Justiça Federal de São Paulo autorizou a condução coercitiva de Adélia Soares, que havia sido convocada como testemunha para a sessão de 29 de abril, mas não compareceu.

Adélia é sócia da empresa Payflow Processadora de Pagamentos LTDA e, segundo Soraya, foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) pelos crimes de falsidade ideológica e associação criminosa. As investigações indicam que ela teria colaborado com uma organização estrangeira para operar jogos de azar ilegalmente no Brasil, utilizando a empresa Payflow como fachada.