Por: Karoline Cavalcante

Fraudes no Gov.br são mais uma crise para o governo Lula

Lula vê-se às voltas com novo problema para administrar | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Enquanto tenta conter a crise gerada pelo escândalo das fraudes contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esbarrou, nesta terça-feira (13), em mais um impasse: a investigação da Polícia Federal sobre um golpe realizado por uma associação criminosa para obter acesso a informações de pessoas por meio de contas digitais vinculadas ao portal Gov.br.

Lançada em julho de 2019, esta é a plataforma oficial do governo federal, que tem por objetivo unificar o cadastro dos cidadãos brasileiros, para que, em apenas uma conta, seja possível acessar todos os serviços públicos digitais. Ao Correio da Manhã, o cientista político André Rosa avaliou que os novos fatos somam mais uma crise para ser administrada pelo governo, “principalmente envolvendo o que era considerada uma das ferramentas tecnológicas de proteção de dados mais eficientes nos últimos anos”.

Operação “Face Off”

No período da manhã, a PF deflagrou a operação “Face Off”, para desarticular uma organização criminosa especializada em fraudes digitais em perfis vinculados à plataforma Gov.br. Segundo as apurações, o grupo utilizava técnicas sofisticadas de alteração facial para burlar sistemas de autenticação biométrica.

Em nota, a corporação informou que as investigações revelaram que os criminosos simulavam traços faciais de terceiros para obter acesso indevido às contas digitais das vítimas, assumindo o controle total dos perfis e, consequentemente, de serviços públicos e informações pessoais sensíveis.

As ações ocorreram em vários estados do Brasil, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Paraíba, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins, com a execução de cinco mandados de prisão temporária e 16 mandados de busca e apreensão, todos expedidos pela Justiça Federal de Brasília.

Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático qualificada e associação criminosa.

“Difícil de contornar”

Para o cientista político, os acordos comerciais que Lula fechou com a China — que anunciou o investimento de R$ 27 bilhões no Brasil — não serão suficientes para tirar essa imagem negativa do governo, principalmente somado ao caso do INSS.

André explicou, ainda, que ficou uma crise “um pouco difícil de contornar” e certamente os políticos do campo oposicionista farão um forte uso das recentes polêmicas a seu favor.

Ele mencionou a articulação liderada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) no centro-direita em torno de uma candidatura presidencial alternativa ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está impedido.

“Então, vejo que é uma crise prolongada. Já há a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS, que já tem assinaturas suficientes para ser instalada com um número considerável — que, inclusive, ultrapassou o limite necessário. Então, eu entendo que [as fraudes no Gov.br] podem ser aliadas junto com essa CPI e é um movimento político que tende a desgastar muito o presidente Lula a pouco mais de um ano das eleições”, explicou Rosa.