O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está na China para firmar acordos comerciais e internacionais com o país asiático, pela quarta vez desde que foi eleito presidente pela primeira vez. O brasileiro e sua comitiva presidencial permanecerão no país até esta terça-feira (13) e retornam ao Brasil na quarta (14). Segundo Lula, a China anunciou que investirá R$ 27 bilhões no Brasil, que serão distribuídos principalmente entre os setores de tecnologia, infraestrutura e educação – este último para formar profissionais capacitados para atender as demandas.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. De acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o fluxo comercial entre os países é de cerca de US$ 160 bilhões.
Em discurso durante um evento em Pequim, Lula destacou que a parceria entre a China e o Brasil é “incontornável” e “indestrutível”. Ele ainda elogiou a postura dos chineses no comércio internacional em meio ao “ressurgimento de tendências protecionistas” – referindo-se à recente política comercial adotada pelos Estados Unidos da América (EUA) sob o comando do presidente Donald Trump.
China X EUA
Apesar de a China e os Estados Unidos terem anunciado que a guerra comercial entre os países teria uma reduzida nas taxas tarifárias durante 90 dias, que contam a partir desta segunda-feira, as interações entre Brasil e China levam ao questionamento se a relação entre os países pode prejudicar a relação entre o Brasil com os Estados Unidos ou abrir novas alternativas diante da política tarifária do presidente estadunidense, Donald Trump.
Ao Correio da Manhã, o pesquisador da Universidade de Helsinque (Finlândia) Kleber Carrilho destacou que circulam no Palácio do Itamaraty dois possíveis caminhos distintos do Brasil com os atritos entre China e Estados Unidos. Segundo o cientista político, enquanto um grupo acredita que “a aproximação dos Estados Unidos precisa prevalecer”, o outro “acha que é a hora de o Brasil decidir ficar ao lado da China ou dos BRICS”.
“Está ficando cada vez mais claro que uma não decisão, ou seja, estar distante de uma das potências, pode ser arriscado para o Brasil”, destacou à reportagem. “Não haverá uma desconexão imediata com os Estados Unidos até porque a relação ultrapassa as questões comerciais e vão também para o ambiente cultural, e isso não vai se perder no curto prazo. Agora, o Brasil precisa pensar na sua industrialização, em formas de agregar valor a seus produtos, inclusive agrícolas. São vários desafios que o Brasil tem, e neste momento talvez a parceria com a China seja mais interessante, com mais valor no longo prazo”, avaliou Carrilho.
A reportagem ainda conversou com o internacionalista e especialista em comunicação política João Vitor Cândido. Na mesma linha de pensamento, ele reforçou que a questão é “delicada, mas não necessariamente conflituosa”.
“O Brasil tem buscado uma postura de equilíbrio pragmático nas suas relações internacionais. Tanto EUA quanto China são parceiros estratégicos – o primeiro com forte presença em inovação, educação e defesa; o segundo como principal destino das exportações brasileiras”, ponderou.
O internacionalista ainda completou que, neste contexto, “a comunicação política é fundamental”. “O Brasil precisa deixar claro que sua aproximação com a China não é um movimento de afastamento dos EUA, mas sim uma estratégia de diversificação de parceiros, reforçando sua soberania e autonomia nas decisões diplomáticas. O risco existe, principalmente diante do clima de rivalidade sino-americana, mas pode ser mitigado por uma diplomacia transparente e bem articulada”, reiterou Cândido.
Escolha?
Em entrevista ao portal UOL, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que o presidente Lula não irá escolher entre a China e os Estados Unidos porque ambos os países são muito relevantes para a economia brasileira. “A China é a maior parceiro comercial do Brasil hoje, há muitos anos já. Então, como é que você vai prescindir disso? Os Estados Unidos têm a tecnologia de ponta que ninguém domina no nível que eles dominam”, ponderou Haddad.
O ministro ainda completou que o presidente brasileiro acredita “no multilateralismo” e, por ter um perfil conciliador, não tomaria decisões que resultassem em escolher entre qualquer um dos países. “Ele [Lula] acredita no multilateralismo e ele pensa que o Brasil, sobretudo pela sua dimensão, peso específico, nem pode pensar em outra política que não seja multilateral. O fato de que, na mesma semana em que ele estava na China e eu estava nos Estados Unidos, deveria significar alguma coisa para um observador isento”, reiterou o chefe da Fazenda, se referindo a sua ida ao encontro de Líderes Empresariais (Lide) nos Estados Unidos.