As estratégias adotadas pelo Palácio do Planalto para conter a crise de imagem gerada pelo escândalo das fraudes contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não estão apresentando os resultados esperados. De acordo com o professor de marketing da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) Ricardo Poli, a atual gestão "ainda não entendeu o mecanismo da comunicação digital".
Na visão de Poli, o governo deveria ter antecipado o vídeo viralizado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o caso, já que era esperado que o parlamentar explorasse a situação, como fez quando deu a entender que a notícia falsa sobre uma suposta taxação do "Pix" poderia acontecer — que também gerou grande repercussão. No vídeo recente, que alcançou mais de 100 milhões de visualizações no Instagram em apenas 24 horas, o parlamentar classifica o escândalo do INSS como "o maior escândalo da história" do país e defende a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o ocorrido.
"Dessa vez, ao contrário da questão do Pix, já era sabido que Nikolas ia fazer um vídeo, e o governo deveria estar preparado para isso. Os argumentos contra o que ele ia dizer já estavam postos, pois o que ele ia falar também já era conhecido; bastava verificar na internet a narrativa criada pela oposição", explicou o professor à reportagem.
Em resposta, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), gravou um conteúdo acusando Nikolas Ferreira de mentir, intercalando trechos da publicação original com sua própria versão dos fatos. Embora tenha atingido 392 mil visualizações, o número foi modesto em comparação ao impacto produzido pelo deputado mineiro. Ricardo Poli alertou também sobre o risco de rebater um vídeo já existente: "Falar sobre o opositor é promover o opositor".
Estratégia
Na gravação, Lindbergh atribui a responsabilidade pelas fraudes à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alinhando-se à postura da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e do Advogado-Geral da União, Jorge Messias. Essa tem sido a abordagem adotada até o momento: afirmar que, embora o incidente tenha sido descoberto no atual governo, ele é uma consequência direta das denúncias feitas pela atual gestão sobre as ações do governo anterior, destacando a eficácia das investigações e medidas de combate à corrupção.
Ao Correio da Manhã, o cientista político André Rosa avaliou que é improvável que essa manobra tenha sucesso, considerando que os descontos foram mais elevados no governo atual. Segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2017, o valor alcançou R$ 460 milhões. No ano seguinte, o montante foi reduzido para R$ 617 milhões. Em 2019, o total caiu para R$ 604 milhões. Em 2020, o valor foi de R$ 510 milhões. Em 2021, a cifra voltou a crescer, alcançando R$ 536 milhões. Em 2022, subiu para R$ 706 milhões. Em 2023, o valor disparou para R$ 1,2 bilhão. E, no último ano, o total chegou a R$ 2,8 bilhões.
Na análise de Rosa, em casos de corrupção, costuma haver uma "cultura política" em que, com o tempo, o eleitor tende a esquecer os eventos passados, e os novos fatos ajudam a aliviar a situação para quem está sendo acusado. No entanto, ele aponta que este caso é peculiar e, em sua opinião, "muito mais grave", pois atinge diretamente os idosos e aposentados.
"A partir do momento em que você prejudica um aposentado, não está prejudicando apenas ele, mas também o neto, o tio, o filho, a irmã. Ou seja, o aposentado é visto como uma criança, na perspectiva das famílias, e toda criança possui uma rede de proteção, o que também se aplica aos idosos. Além disso, muitas famílias dependem dessa aposentadorias, sem contar o alto custo de remédios, consultas médicas e outras despesas", explicou. Para ele, essa situação também causa um impacto significativo na opinião pública e na empatia dos eleitores.