Por: Karoline Cavalcante

Diretor da Abin vai explicar espionagem e Paraguai

Corrêa dará explicações sobre duas investigações da PF | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi intimado pela Polícia Federal nesta terça-feira (15) para prestar depoimento no inquérito que apura um suposto esquema de espionagem ilegal na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A oitiva está marcada para quinta-feira (17), mesma data em que deve ser ouvido o ex-diretor adjunto da agência Alessandro Moretti, também convocado pelas autoridades.

Os investigadores buscam esclarecer dois pontos principais: se a gestão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da Abin tentou obstruir as investigações sobre o uso da agência, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), para monitorar ilegalmente autoridades, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados desafetos do ex-presidente — caso que ficou conhecido como “Abin paralela”.

Paraguai

Além disso, Corrêa dará explicações sobre uma suposta ação hacker em computadores do governo do Paraguai para obter informações que fossem vantajosas ao Brasil numa negociação envolvendo a Hidrelétrica Binacional de Itaipu.

Em nota, Corrêa disse que está à disposição das autoridades competentes “para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da Agência”.

Moretti já integrava os quadros da Abin durante a eleição de Lula e permaneceu na agência graças à sua proximidade com Corrêa. Ocupando o posto de número dois da instituição desde março de 2023, ele acabou sendo exonerado em 30 de janeiro de 2024. A decisão foi motivada por suspeitas de que teria tentado atrapalhar investigações da Polícia Federal sobre práticas de espionagem ilegal supostamente conduzidas por agentes da própria Abin. Em seu lugar, assumiu o cientista político Marco Cepik.

Relembre

Em março deste ano, dois agentes da Abin afirmaram à Polícia Federal que houve um ataque hacker aos sistemas do governo paraguaio. Segundo os depoimentos divulgados pelo UOL, a ação teve como objetivo acessar informações privilegiadas sobre as negociações relacionadas à Usina Hidrelétrica de Itaipu. A revelação levantou preocupações sobre possíveis violações diplomáticas e o uso indevido da estrutura de inteligência do Estado.

As investigações indicam que computadores paraguaios foram invadidos para extrair dados sigilosos sobre tarifas de Itaipu, tema de constantes disputas comerciais entre Brasil e Paraguai. A operação foi planejada durante o governo de Bolsonaro e executada já sob a gestão do presidente Lula. A Polícia Federal agora apura se houve ilegalidade na operação e quais agentes estiveram envolvidos.

Na época, o governo brasileiro se apressou em se desvincular da operação. Em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, a atual gestão negou qualquer envolvimento e atribuiu a autoria da ação ao governo anterior. Segundo o comunicado, a operação foi autorizada em junho de 2022, durante a gestão passada, e foi oficialmente suspensa em março de 2023, assim que a nova equipe tomou conhecimento do caso. Destacaram que, naquele momento, a Abin estava sob comando interino, já que Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral, ainda aguardava a aprovação de seu nome pelo Senado — o que aconteceu apenas no final de maio daquele ano.

“O governo do Presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo”, destacou o Itamaraty.