Por: Gabriela Gallo

Pedro Lucas nas Comunicações deve iniciar reforma

Entrada de Pedro Lucas deve deflagrar mudança mais ampla no governo | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O União Brasil aguarda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornar de viagem internacional para oficializar o nome do líder do partido na Câmara dos Deputados, Pedro Lucas Fernandes (MA), para assumir o Ministério de Comunicações. Atualmente, o presidente participa da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), evento no qual ele discursou nesta quarta-feira (9). A chegada de Lula a Brasília estava prevista para a madrugada desta quinta-feira (10).

Nos bastidores, o chefe do Executivo já concordou com a indicação de Pedro Lucas como seu próximo ministro. A expectativa é que o presidente aproveite a saída de Juscelino Filho para anunciar uma nova reforma ministerial, visando as eleições de 2026. A ideia é que Lula amplie os espaços do Centrão para obter dos partidos do grupo apoio à sua reeleição. Tomando-se o exemplo do União Brasil: enquanto a ala oposicionista lança o nome do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para a presidência, o ministro do Turismo, Celso Sabino, defende que o partido apoie Lula. É esse tipo de situação que Lula pretende reforçar.

“Atrasada”

Ao Correio da Manhã, a Diretora de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados Rebeca Lucena concorda com a troca do Ministério das Comunicações acelera a movimentação da reforma ministerial que, na avaliação dela, “já começa atrasada”.

“Em um momento de negociações delicadas no Congresso, especialmente com o envio do projeto que trata da isenção do Imposto de Renda, o governo precisa reforçar sua base de apoio”, destacou à reportagem.

Na mesma linha, o advogado especialista em relações governamentais Isaac Simas ainda completa que o presidente precisa definir a formação ministerial de seu governo até o final do ano “para acomodar quem realmente vai apoiar o PT e a sua eleição, ou de seu substituto, nas eleições gerais de 2026”.

Para Rebeca Lucena, as pastas que devem estar no radar para mudança são o Ministério do Turismo, remanejando o atual ministro Celso Sabino (União Brasil) para outra pasta, e o Ministério do Desenvolvimento Social, apesar deste demandar “mais cautela por envolver programas prioritários do governo”. Ela também não descarta eventuais trocas nos ministérios do Esporte e da Pesca porque, apesar de serem considerados ministérios de menor orçamento, eles tem “valor político na composição com o Centrão”.

A especialista em relações governamentais avalia que uma possível troca seria realocar Celso Sabino no Ministério de Ciência e Tecnologia (hoje ocupado por Luciana Santos, do PCdoB) e indicar o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) para assumir o Ministério do Turismo. “Essa troca fortalece dois aliados importantes: o União Brasil, que ganharia uma pasta com orçamento mais robusto, e o PSD, ampliando sua presença no governo. No entanto, há um ponto sensível: a possível redução no número de mulheres no primeiro escalão, o que pode gerar críticas ao governo”, ponderou Lucena.

União Brasil/PSD

Para a reportagem, o especialista em relações governamentais Isaac Simas concorda que os principais nomes para assumir os ministérios são representantes do União Brasil e do PSD, que têm uma relação ambivalente com o governo federal. E a possível troca gera uma racha entre as siglas.

Por exemplo, na última semana o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anunciou sua pré-candidatura à presidência em 2026. O apoio, ou não, do partido na campanha presidencial de Caiado entra em conflito com ala que integra ao governo federal. No caso do PSD, o presidente do partido Gilberto Kassab é próximo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), outro nome cotado para representar a direita na próxima corrida eleitoral à presidência. Com isso, ambos os partidos precisam definir se seguirão em cargos na Esplanada ou se desembarcarão do governo.

“Fica aquele jogo de xadrez em que ninguém quer mover a primeira peça. O PSD quer ficar quietinho até o Tarcísio decidir se vai sair candidato ou não para o Kassab ir para o governo. O União Brasil também deixa o Caiado falando, mas continua na base do governo, até porque o partido tem muita expressão tanto no Nordeste quanto no interior do Brasil”, afirmou Simas.

“A acomodação desses partidos [no governo] pode vir a, inclusive, moldar o cenário presidencial no ano que vem. E para fazer essas acomodações, provavelmente vão ser movidas peças em ministérios do PT ou de partidos que integram a base do PT de uma forma que não vão abandonar o barco. Por exemplo, hoje [o Ministério de] Ciência e Tecnologia é chefiado pela presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos. É um caso que, se trocar, não vai fazer tanta diferença política com o Lula. Outra coisa é tirar algum ministério que já é do PT e não tem um quadro muito desenvolvido politicamente”, ele completou.