Por: Karoline Cavalcante

Brasil pode recorrer à OMC contra guerra tarifária de Trump

Alckmin ainda tenta o diálogo para resolver questão com os EUA | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo brasileiro, inicialmente, tem priorizado o diálogo diplomático para resolver a questão das sobretaxas impostas pelos Estados Unidos, que afetam diretamente o aço e o alumínio brasileiros. Contudo, diante da rigidez de Washington, o Brasil já estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando resolver a disputa de forma multilateral.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nesta quarta-feira (12) que, se as tarifas forem mantidas, o Brasil não descartará essa via legal para contestar a medida unilateral do governo americano. A declaração foi feita em entrevista à Folha de S. Paulo.

“Essa é uma possibilidade. Nós defendemos o multilateralismo e a complementaridade econômica, e a OMC existe justamente para estabelecer regras universais que devem ser seguidas por todos”, destacou Alckmin.

O vice-presidente também reiterou que o Brasil não representa uma ameaça para os Estados Unidos, citando o superávit de mais de US$ 7 bilhões do país com os EUA apenas em bens, além dos serviços. “No setor de aço, somos o terceiro maior comprador de carvão siderúrgico dos Estados Unidos, produzimos semiacabados e exportamos para eles”, afirmou.

Diálogo

Alckmin expressou sua preocupação com a decisão do governo de Donald Trump (Republicanos) e ressaltou que o Brasil prioriza o diálogo. “Nossa primeira opção é o diálogo. Nos próximos dias e semanas, buscaremos aprofundar esse trabalho com os Estados Unidos. Lamentamos profundamente essa medida, que encarece produtos e dificulta o comércio. Trata-se de uma ação unilateral, e o Brasil também avaliará outras medidas”, explicou.

Após se reunir com representantes da indústria do aço brasileira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apoiou a posição do governo. Ele afirmou que a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é de não adotar retaliações. O ministro da Fazenda também ressaltou que os empresários apresentaram argumentos sólidos de que as sobretaxas não são vantajosas nem para os Estados Unidos. Nos próximos dias, Haddad encaminhará uma nota técnica a Alckmin com as propostas discutidas no encontro. “Os Estados Unidos só têm a perder, pois o comércio bilateral entre nossos países é muito equilibrado”, concluiu o ministro.

Injustificável

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a determinação é “injustificável” e “equivocada”, além de afetar o comércio bilateral entre as duas nações, que possuem uma cooperação e integração econômica histórica. Em nota, o Itamaraty destacou que as medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.

“No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semiacabado para aquele país (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana”, afirmou o ministério.

Embora o ministro da Casa Civil, Rui Costa, tenha dito mais cedo que novas decisões só serão tomadas na próxima sexta-feira (14), quando haverá uma nova reunião com representantes do governo americano, Alckmin negou que tenha um encontro marcado para o dia. Na semana passada, o vice-presidente realizou uma videoconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.