O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), participou de um seminário do Grupo de Líderes Empresariais do Distrito Federal (Lide-DF), promovido nesta quarta-feira (12), para debater sobre as questões econômicas do país. Ao citar a agenda econômica do governo – entregue pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad ao Congresso Nacional no início de fevereiro –, Motta cobrou responsabilidade fiscal nos gastos públicos e disse que Haddad precisa de mais apoio do próprio governo federal do que dos parlamentares.
“O ministro precisaria muito mais às vezes de apoio interno que o apoio externo, porque a agenda dele era uma agenda aprovada, principalmente pelos partidos de centro, que têm uma preocupação muito grande com o desempenho econômico do país”, declarou o deputado.
O presidente da Câmara ainda ressaltou que o Congresso Nacional precisa discutir uma agenda que atenda ao que o “povo quer” e não a “enfrentamentos vazios e radicalismos”.
“A agenda tem que ser positiva para o país. Temos um desafio, fazer com que o Brasil deixe de ser o país do futuro e passe a ser o país do presente”, completou.
Conflitos
A afirmação do parlamentar sobre a relação interna entre o ministro e demais representantes do governo se evidencia em conflitos nos últimos meses. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em evento na manhã de quarta, disse que Haddad precisa ter “mais charme” e ter cuidado com o que diz ao microfone.
Ao Correio da Manhã, o cientista político Felipe Rodrigues ressaltou que os embates entre o ministro da Fazenda e demais membros do governo, especialmente membros ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT), “representam um embate clássico dentro de governos de esquerda no Brasil: o conflito entre responsabilidade fiscal e expansão de gastos sociais”.
“Desde o início do governo, Haddad tem adotado uma postura de maior prudência fiscal, buscando mais equilíbrio nas contas públicas e o cumprimento do arcabouço fiscal. Essa abordagem, embora tenha simpatia do mercado e de parte do Congresso, encontra resistência dentro do próprio PT e em setores do governo que defendem uma política econômica mais expansionista”, explicou Rodrigues para a reportagem.
“Entre os campos mais progressistas do PT existe o entendimento de que a agenda econômica não pode ser tão fiscalista e que é preciso espaço no Orçamento para contemplar a população, especialmente a parcela de baixa renda”, completou o consultor de Análise Política da BMJ Consultores Associados Érico Oyama.
Desavenças
Umas principais figuras críticas à gestão de Fernando Haddad frente ao Ministério da Fazenda era a então presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) – que foi empossada como nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal, na segunda-feira (10). Ela já demonstrou publicamente sua insatisfação e vontade de ter mais intervenção estatal e expandir mais gastos em políticas econômicas. Porém, ao tomar posse no novo cargo, a nova ministra realizou um discurso ameno frente a Haddad, exaltando seu trabalho, buscando um entendimento em ambos os ministério.
“Foi uma sinalização de que, como ministra da SRI, Gleisi terá como principal preocupação viabilizar acordos políticos em prol da agenda do governo, e não ser uma porta-voz de críticas a medidas de contenção fiscal. Há ainda um conflito no Executivo entre Haddad e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, mas embates entre ministérios que lidam com entregas e o Ministério da Fazenda são naturais e ocorrem em todos os governos”, ponderou Oyama.
Mas para além da nova ministra, o cientista político Felipe Rodrigues destacou que, atualmente, estão em pauta medidas que impactariam o equilíbrio fiscal, como a ampliação da faixa de isenção do pagamento do Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil – promessa de campanha do presidente Lula. A medida pressiona diretamente Haddad, visto que a isenção implica em uma compensação em outras áreas. “O que vemos é que Haddad tem resistido a propostas que comprometam as metas fiscais, e isso gera atritos com alas do governo que querem ver entregas políticas de curto prazo, especialmente com a proximidade de 2026”, ressaltou.