Por: Gabriela Gallo

Língua de Lula vira problema no governo

Fala de Lula empanou novo anúncio do governo | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Não é de hoje que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem cometendo gafes em seus discursos, especialmente em discursos improvisados. Durante um evento de lançamento de um programa para ampliar o crédito consignado para trabalhadores do setor privado, nesta quarta-feira (12), o presidente Lula disse que espera ter uma boa relação com os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). E completou que foi por isso que colocou “uma mulher bonita” na articulação política do governo com o Congresso Nacional. A fala se refere à ex-presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que assumiu a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pasta que faz essa articulação.

“É muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Porque uma coisa que quero mudar é estabelecer relações com vocês. Por isso, coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância de vocês”, afirmou.

A fala não foi bem interpretada, e trouxe um discurso que desmerece a história, os feitos políticos e a competência de Gleisi Hoffmann para limitá-la a uma figura de boa aparência física. Gleisi era antes a presidente do PT é deputada federal eleita pelo Paraná.

“Cabeçudão”

Não foi a única gafe de Lula no evento na quarta-feira. Além disso, o presidente fez comentários preconceituosos sobre o líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado José Guimarães (PT-CE). Ao comemorar a aprovação da reforma tributária, Lula atribuiu o feito a Guimarães, mas o chamou de “cabeçudão do Ceará” – o que pode ser interpretado como um cearense inteligente, mas também associar cearenses a pessoas que têm cabeças grandes.

Esta não foi a primeira vez que o presidente proclama falas polêmicas em momentos de improviso em seus discursos. Em julho de 2024, ele lamentou o resultado de uma pesquisa que apontava que os casos de violência doméstica aumentavam quando o time de futebol do parceiro perdia o jogo. Mas, então, acrescentou que se o torcedor fosse corintiano, o time para o qual ele torce, “tudo bem”.

“Hoje, eu fiquei sabendo de uma notícia triste, eu fiquei sabendo que tem pesquisa que mostra que depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corinthiano, tudo bem. Mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente”, disse na época.

Além disso, na cerimônia deste ano em memória aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, Lula disse que era um amante da democracia porque, segundo ele, na maioria das vezes os homens “são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”. Sua esposa, Janja da Silva, reagiu à fala prontamente.

Impactos

As falas polêmicas de Lula geram um impacto e um desgaste na imagem do presidente. O principal motivo de Sidônio Palmeira ter assumido a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) foi para melhorar a comunicação do poder Executivo e, consequentemente, melhorar a imagem do presidente Lula para as eleições de 2026. Contudo, ao Correio da Manhã, a coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP Lilian Carvalho alertou que “as declarações controversas do presidente Lula tendem a capturar a atenção da mídia e do público, desviando o foco das ações e realizações do governo”.

“Isso ocorre porque Lula vem de um contexto em que seus discursos de improviso eram filtrados pela mídia tradicional, como telejornais e jornais, que podiam suavizar o impacto negativo. Hoje, com a capacidade de qualquer pessoa filmar e compartilhar declarações controversas em tempo real, o presidente enfrenta um desafio significativo. Enquanto Lula é um líder com uma abordagem mais analógica, a comunicação atual é essencialmente digital. Isso limita o impacto da atuação de Sidônio Palmeira, pois a comunicação do governo precisa se adaptar a essa nova realidade”, explicou à reportagem.

Todavia, o cientista político João Felipe Marques avalia que as falas polêmicas do último evento aparentam ser “mais superficiais do que um problema estrutural”.

“Declarações polêmicas são comuns na política e, muitas vezes, os eleitores têm um certo grau de tolerância a elas. Mas se essas falas se tornarem recorrentes e associadas a uma percepção de desorganização ou falta de direção, associada a indicadores econômicos ruins, elas podem contribuir para uma imagem negativa do governo”, detalhou ao Correio.

“Se o governo estiver com boa aprovação e resultados econômicos positivos, essas falas têm um efeito limitado. No atual cenário de incerteza econômica e queda na popularidade, essas declarações podem ganhar mais relevância e serem usadas para questionar a eficácia da gestão”, completou Marques.