O Brasil e os Estados Unidos anunciaram que, nos próximos dias, realizarão uma série de reuniões bilaterais para discutir temas relacionados à política comercial entre os dois países. A informação foi divulgada na tarde de sexta-feira (7), após uma videoconferência entre o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e representantes da administração do presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano).
Alckmin avaliou positivamente a conversa, que durou cerca de uma hora, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. “Através deste diálogo, estamos confiantes de que encontraremos novas oportunidades para aprofundar nossa histórica parceria, baseada em laços econômicos sólidos e equilibrados, que envolvem uma ampla gama de setores produtivos”, afirmou Alckmin.
Durante a reunião, o vice-presidente mencionou que a balança comercial entre os países é de aproximadamente US$ 80 bilhões, com um superávit de US$ 200 milhões para os americanos. Ele também destacou que, entre os dez produtos que o Brasil mais importa dos Estados Unidos, oito não possuem tarifas, e a tarifa média aplicada é de 2,73%, abaixo da média nominal sugerida.
Complementariedade econômica
O Brasil ocupa o 7º lugar na lista dos países com maior superávit comercial de bens para os Estados Unidos. Quando se considera bens e serviços, o superávit comercial dos EUA como o Brasil supera os US$ 25 bilhões.
Ao final da videoconferência, Alckmin reiterou a intenção do governo brasileiro de fortalecer a complementariedade econômica entre os dois países, buscando aumentar a reciprocidade nas relações comerciais. “[Queremos] fortalecer nossas empresas e, acima de tudo, contribuir para as boas práticas comerciais entre os dois países”, afirmou o vice-presidente.
Tarifaço e tensões políticas
O encontro aconteceu um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursar no Congresso e mencionar o Brasil entre os países que, segundo ele, praticam "tarifas injustas" nas negociações comerciais com os EUA. Trump também citou a China, Índia, México, Canadá, Coreia do Sul e a União Europeia, e anunciou que, a partir do dia 2 de abril, adotará a modalidade de “taxações recíprocas”. “Se os outros países nos taxam, nós também vamos taxá-los. Se vale para um lado, vale para o outro”, declarou o presidente norte-americano.
A economia brasileira já enfrenta impactos devido às sobretaxas impostas por Trump em produtos como combustíveis, aço e alumínio. Para o especialista em política internacional, Márcio Coimbra, o Brasil, no momento, não está em posição de realizar negociações comerciais substanciais, e a movimentação do governo parece mais política do que econômica.
“Se Trump quiser retalhar o Brasil por sua posição política em relação a temas como os Brics, ou pela proposta de uma moeda comum entre os países do bloco para substituir o dólar americano, isso pode acarretar sanções que afetem diretamente a economia brasileira. São sanções comerciais, mas com um fundo político”, afirmou Coimbra ao Correio da Manhã.
Ele completou destacando que o Brasil precisa de uma aproximação política com o governo Trump, o que ainda não aconteceu. "Então, de pouco adianta uma negociação do vice-presidente em termos comerciais. O governo brasileiro não tem canais diretos de diálogo com a administração Trump, e isso tem impedido o avanço em pautas que poderiam evitar sanções comerciais ao nosso país", prosseguiu o especialista