A possível denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por sua suposta tentativa de golpe em 2022 pode ofuscar os resultados das recentes pesquisas eleitorais, o que poderia beneficiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso ocorre porque o índice de desaprovação do governo tem superado o de aprovação.
A análise é do cientista político Leandro Gabiati, que também destaca que, por outro lado, esse enfraquecimento do governo, somado à formalização da denúncia, "pode aumentar a pressão da oposição no Congresso para avançar com o PL da Anistia". Este projeto de lei busca conceder anistia aos envolvidos nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
A oposição já se prepara para a manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Segundo interlocutores do ex-presidente, a direita precisa aguardar o parecer para entender seu conteúdo e, a partir disso, posicionar-se. No entanto, eles já estão "prontos para rebater as acusações". Nos bastidores, a expectativa é de que a denúncia seja formalizada até o fim de fevereiro, antes do carnaval. De acordo com informações do Metrópoles, a previsão é que isso ocorra até quarta-feira (19), quando Lula participará de um jantar com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), na casa do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso. Gonet também foi convidado, o que poderia gerar desconfortos caso a liberação do documento aconteça logo após esse evento.
Sistema eleitoral
Em transmissão ao vivo destinada aos apoiadores brasileiros nos Estados Unidos, Bolsonaro voltou a atacar, no último sábado (15), a integridade do sistema eleitoral brasileiro e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sem apresentar provas, o ex-presidente alegou que o órgão teria utilizado recursos de outro país para incentivar jovens de 16 anos a tirar o título de eleitor, o que, segundo ele, configurou uma campanha para o presidente Lula, visto que jovens dessa faixa etária tendem a votar na esquerda. "Eles fizeram uma campanha; aí sim, pode ter dinheiro de fora", afirmou.
É importante ressaltar que o ex-presidente está inelegível até 2030 por decisão do TSE por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao atacar as urnas eletrônicas em 2022.
Ao Correio da Manhã, o líder do Partido Liberal na Câmara dos Deputados, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), explicou que "o caminho" a ser adotado para reverter a inelegibilidade será por meio do projeto de lei (PL) da Ficha Limpa. Para ele, o ex-presidente não precisa de anistia, pois não possui condenação criminal.
A presidente do Partido dos Trabalhadores e deputada federal Gleisi Hoffmann ironizou a fala de Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente "só pode estar tentando ser preso".
"Só pelas calúnias contra a Justiça e o processo eleitoral em sua última live, Bolsonaro já merecia cumprir bons anos de cadeia. Dizer que o TSE recebeu 'dinheiro de fora' nas eleições de 2022 é uma ofensa inacreditável, mesmo na boca do 'Pai da Mentira'", iniciou Hoffmann. "Sua hora está chegando, inelegível, e não adianta bajular seus patrões lá dos EUA, como tem feito todo dia. O Brasil é um país soberano, e nossas instituições também. Você perdeu no voto e perdeu de novo no golpe", complementou, em sua rede social X.
Atos da direita
O ex-presidente publicou um vídeo convidando a população para um ato no dia 16 de março, organizado pelo pastor evangélico Silas Malafaia, contra a reeleição de Lula em 2026 e em defesa do PL da Anistia. “A nossa pauta, liberdade de expressão, segurança, curso de vida e Fora Lula 2026 e Anistia Já”, afirmou Bolsonaro. No entanto, parlamentares ligados à direita divergem da pauta e convocam para manifestações que pedem pelo impeachment do atual líder do Palácio do Planalto, tema que Bolsonaro está evitando.