Em meio às ameaças de sobretaxas por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), aos países emergentes, o governo brasileiro anunciou que, durante a presidência do Brics em 2025, continuará os esforços para desenvolver mecanismos que permitam aos integrantes do bloco utilizarem uma moeda alternativa ao dólar nas transações comerciais entre si.
Em nota divulgada na última quinta-feira (13), o Brics ressaltou que a adoção de uma moeda alternativa facilitaria o comércio e os investimentos dentro do bloco, além de promover sistemas de pagamento mais acessíveis, transparentes, seguros e inclusivos entre seus membros.
Embora o comunicado não tenha mencionado diretamente o líder norte-americano, o grupo enfatizou que o Brasil enfrentará importantes responsabilidades sob a liderança do Brics e da COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em um cenário de tensões geopolíticas que ameaçam a frágil ordem multilateral internacional. O texto alertou para os riscos do "unilateralismo insensato" e a ascensão do extremismo, que comprometem a estabilidade global e ampliam as desigualdades que afetam as populações mais vulneráveis ao redor do mundo.
A reunião do bloco, que contou com representantes de China, Rússia, Índia e África do Sul, além de novos membros como Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã, ocorreu de forma virtual e abordou questões sobre o impacto da inteligência artificial e da crise climática no mercado de trabalho.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia defendido a busca por alternativas ao dólar como uma medida urgente e que não pode ser postergada. Esse movimento, no entanto, gerou reações agressivas por parte de Trump, que anteriormente ameaçou impor tarifas de 100% aos países do Brics caso continuem com a substituição da moeda americana.
Na quinta-feira, em conversa com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, Trump reafirmou sua posição e declarou que o Brics "está morto" desde que fez o anúncio das retaliações, garantindo que os países do bloco "implorarão" para que ele volte atrás. "O Brics está morto desde o momento que eu mencionei isso. Se quiserem brincar, não terão mais comércio conosco", afirmou Trump, antes de se reunir com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Incertezas
Para o economista e consultor em Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Guilherme Gomes, o conflito comercial capitaneado pelo governo Trump continua incerto. Ele explicou que o memorando assinado pelo presidente norte-americano nesta quinta-feira, que definiu as diretrizes para as "tarifas comerciais recíprocas", não apresentou detalhes para a sua implementação.
Segundo ele, as incertezas nesse período devem trazer maior volatilidade ao mercado internacional e possíveis reações de outros países, mas há espaço para que essas medidas sejam revogadas. O governo Trump retrocedeu em algumas das ações anunciadas até o momento, como as tarifas aplicadas ao Canadá e ao México, após esses países buscarem negociações com os EUA.
"O cenário final para cada país e setor dependerá de negociações específicas (caso a caso) com o governo americano. Enquanto há essa indefinição da política comercial americana, os outros países estão trabalhando em alternativas. A União Europeia já ameaçou estabelecer tarifas recíprocas aos EUA, configurando de fato uma guerra comercial, enquanto China e Brasil mencionaram possíveis denúncias à Organização Mundial do Comércio (OMC). Há possibilidade que uma guerra comercial global vá tomando forma ao longo de 2025", finalizou Gomes.