Por: Karoline Cavalcante

Galípolo sinaliza para mais inflação e juros altos

Galípolo: desconforto com inflação vai continuar | Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, declarou nesta quarta-feira (12) que o Brasil está “caminhando para um patamar bastante elevado do ponto de vista de aperto monetário”. A declaração foi feita durante um seminário promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio de Janeiro.

Segundo Galípolo, esse cenário implicará um período em que a inflação continuará a ser um fator de desconforto para os brasileiros no curto prazo. Ele ressaltou que a expectativa é que a inflação permaneça acima da meta de 3% estabelecida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN), com uma margem de tolerância de até 4,5%. “É um momento desconfortável para as empresas e famílias, pois a inflação deve seguir em um patamar desconfortável, fora da meta, repercutindo todos os efeitos do passado. Espera-se que a política monetária comece a fazer efeito gradativamente, apresentando um processo de desaceleração.”, explicou o presidente da autarquia.

Para ele, o Brasil “praticamente gabaritou” todos os itens para se interromper o ciclo de flexibilização e iniciar um ciclo de alta de juros, citando as pressões inflacionárias, somadas às questões de impacto climático e a desvalorização da moeda ao longo de 2024. A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na gestão de Galípolo, elevou em janeiro deste ano, a Selic (taxa básica de juros) em um ponto percentual, para 13,25% ao ano e sinalizou que vai elevar para 14,25% em março.

Consertar os juros?

Apesar de claramente Galípolo sinalizar que a política monetária não deve mudar com a perspectiva de alta da inflação, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a responsabilizar o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, pelas altas consecutivas e afirmou que o gestor anterior “teve um comportamento anti-Brasil”. Segundo ele, Galípolo vai consertar os juros, mas precisa de tempo.

“Tenho certeza de que o Gabriel Galípolo vai consertar a taxa de juros neste país. Temos de dar a ele o tempo necessário para fazer as coisas. Ele não poderia entrar e dar um cavalo de pau. É preciso que vá com cuidado para que a gente não tenha uma trombada”, afirmou, em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá, nesta quarta-feira (12).

Na avaliação do economista Igor Lucena, a política fiscal expansionista do governo — que aumenta os gastos públicos ou reduz os impostos — em conjunto com a política restritiva do Banco Central — ações para diminuir a oferta de moeda —, é o receituário básico para a economia dar errado. De acordo com ele, o BC não pode resolver a inflação sozinho, o governo também precisa cuidar do problema fiscal. “A partir do momento em que você continua gastando no fiscal, você aumenta as taxas de juros para combater a inflação, o custo da dívida aumenta, a atividade econômica cai ainda mais”, iniciou Lucena. “O grande ponto é, como é que se resolve isso: só tem uma maneira, resolver no fiscal. O Banco Central sozinho não resolve”, completou.

Desafios

No âmbito global, o sócio da Andaluz Consultoria de Investimentos, Igor Medeiros, avaliou que os preços das commodities — matérias-primas básicas produzidas em larga escala — seguem relativamente estáveis, porém a reeleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos), pode manter o dólar valorizado e influenciar nos mercados emergentes, como é o caso do Brasil. “O Federal Reserve (Fed), que é o Banco Central americano, tem adotado uma postura cautelosa para equilibrar o crescimento econômico e a meta inflacionária nos EUA. Caso essa estratégia resulte em um período prolongado de juros elevados no mercado americano, o Banco Central do Brasil pode seguir uma linha semelhante”, explicou Medeiros.

“Dessa forma, a declaração de Gabriel Galípolo reflete um cenário em que a inflação continuará sendo um desafio, exigindo que a política monetária mantenha uma postura restritiva e parcimoniosa por um período prolongado. Isso implica taxas de juros elevadas por mais tempo, com efeitos diretos no custo do crédito e nas decisões de consumo e investimento”, prosseguiu o consultor de investimentos.