Por: Gabriela Gallo

Governo quer evitar guerra comercial com EUA em torno do aço

Para Haddad, medida de Trump é "contraproducente" | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, declarou, nesta terça-feira (11), que o governo brasileiro não busca uma guerra comercial com os Estados Unidos após a oficialização da taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio. Ou seja, mesmo confirmada a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (partido Republicano), o discurso brasileiro segue sendo de cautela.

“O presidente Lula tem dito sempre, com muita clareza, que guerra comercial não faz bem para ninguém. Um dos avanços importantes que tivemos é exatamente o diálogo com os países. O Brasil não estimula e não entrará em nenhuma guerra comercial. Sempre seremos favoráveis para que se fortaleça, cada vez mais, o livre comércio”, disse Padilha em conversa com a imprensa.

Impactos

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a medida de Trump. O ministro disse que “medidas unilaterais desse tipo são contraproducentes”, reforçando que a decisão altera a dinâmica do comércio internacional e pode gerar impactos negativos tanto para os EUA quanto para seus parceiros comerciais.

Ao Correio da Manhã, o economista e professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Germano Mendes de Paula pontuou que, dentre os principais impactos com a medida, está a possibilidade de o Brasil encontrar novos mercados compradores para substituir os EUA. O produto não é vendido diretamente a um consumidor final, “mas para outra siderúrgica, que a transformará em laminados (produtos finais)”. Dessa forma, “é difícil encontrar mercados imediatos que venham compensar a provável queda das exportações”.

“O cenário é agravado pelo fato de que o mercado mundial de placas é relativamente estagnado. Isto então tende a reduzir o nível de utilização da capacidade instalada da indústria, que é determinante na lucratividade do setor. O próprio Trump mencionou que o objetivo da medida é aumentar o nível de utilização da siderurgia norte-americana para 80%. Na semana passada, este índice estava em 75%”, completou o economista.

Apesar disso, ele não antevê um impacto nos preços do aço no Brasil, considerando que “a maior parcela das exportações brasileiras para os Estados Unidos é de placas e o mercado doméstico deste produto é pequeno (186 mil toneladas, em 2024, para uma total comercializado de 8,4 milhões de toneladas, ou seja, 2,2%)”. Porém, tudo dependerá de como a indústria irá se comportar.

A reportagem também conversou com o diretor de Relações Governamentais e Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados José Pimenta, que disse que a taxação terá efeitos a curto e longo prazo. “Essa medida vai impactar diretamente grande produtores globais e exportadoras globais e tende a ter um efeito de curto prazo que é a própria manutenção dessas taxas, mas também de longo prazo afetando as cadeias de médio, pequeno e grande porte industrial mundo afora”, disse ao Correio da Manhã.

Alternativas

Como uma alternativa à taxação norte-americana, o Instituto do Aço Brasil (IAB), entidade que representa as fabricantes de aço brasileiras, emitiu uma nota nesta terça-feira (11) defendendo que ambos os países retornem ao acordo firmado em 2018 – na época, primeiro mandato de Donald Trump, quando ele também implementou uma tarifa de 25% na importação dos mesmos produtos. O acordo criou cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados e placas e de 687 mil toneladas de laminados.

“O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, em razão da parceria ao longo de muitos anos e por entender que a taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes. Considerando, especificamente, o comércio dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos – Estados Unidos e Brasil detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões”, destacou o Instituto.

Além de um possível retorno de cotas implementados entre as duas nações, José Pimenta também pontuou outras duas alternativas para o Brasil: “entender como esse aço pode ser absorvido no mercado interno, mas também como ele pode ser exportado e redirecionado para outros países que também dependem, de alguma forma, de aço importado para completar sua produção industrial”.