Por: Karoline Cavalcante

Guerra tarifária entre EUA e China pode impactar o Brasil

Após perdões presidenciais, Trump pode investigar Biden | Foto: Reprodução

A recente escalada de tarifas entre os Estados Unidos e a China pode abrir novas oportunidades de mercado para o Brasil. Em entrevista ao Correio da Manhã, a advogada especialista em Direito Internacional Hanna Gomes destacou que, devido à instabilidade provocada pela guerra tarifária, empresas e mercados internos dos dois países podem ser forçados a procurar fornecedores alternativos para reduzir custos e manter a fluidez nas suas operações comerciais.

"Esse cenário de disputas tarifárias pode resultar em um aumento do investimento estrangeiro no Brasil, já que empresas podem buscar mercados mais estáveis como alternativa", explicou a especialista.

No entanto, Hanna também alertou para os impactos negativos que o Brasil pode enfrentar, dado que o conflito tem o potencial de desacelerar o crescimento econômico global e destacou ainda a incerteza dos efeitos dessa volatilidade. "Embora os reflexos dessa tensão sejam imprevisíveis, é fundamental que o Brasil comece a explorar novos mercados para seus produtos, com o objetivo de diminuir a dependência dos Estados Unidos e da China. Isso pode significar buscar aliados estratégicos, assumindo os benefícios e os riscos dessa escolha", completou a advogada.

Para o cientista político Kleber Carrilho — que é pesquisador da Universidade de Helsinque, na Finlândia —, o Brasil tem mostrado um movimento, principalmente em direção à Europa, o que por um lado demonstra uma neutralidade, mas também é um risco. “Porque a Europa tem se enfraquecido, tem tido crises muito grandes. Inclusive França e Alemanha, as duas maiores economias da União Europeia, neste momento estão em crise. E se o Brasil se aproximar principalmente desses dois países, pode ser visto como um país a mais nessa tendência do fracasso”, afirmou.

Guerra tarifária

Na última sexta-feira (31), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano) anunciou uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses. Na medida, também implementou uma tarifa de 25% sobre as importações do México e do Canadá (e de 10% sobre a energia canadense). Em sua justificativa, o republicano afirmou que o aumento é devido “à grande ameaça de estrangeiros ilegais e drogas mortais que matam os nossos cidadãos, incluindo o fentanil".

Trump decidiu na segunda-feira (3) suspender pelo período de um mês as tarifas impostas ao México e ao Canadá. Ambos os países entraram em acordo com os EUA, oferecendo mais cooperação na região fronteiriça. A China, porém, optou por retaliar a decisão dos EUA e anunciou uma série de impostos adicionais sobre os produtos norte-americanos a partir da próxima segunda-feira (10), que incluem uma tarifa adicional de 15% sobre carvão importado e gás natural liquefeito e uma tarifa adicional de 10% sobre petróleo, máquinas agrícolas, carros de grande cilindrada e caminhonetes.

Questionado sobre a decisão do país asiático, Trump respondeu que está “tudo bem” e que não tem pressa para falar com o presidente chinês Xi Jinping (Partido Comunista). “Falarei com ele no momento apropriado”, declarou o republicano à Reuters.

Pressão

Kleber Carrilho avalia, ainda, que parte importante dessas tarifas imputadas pelos EUA serve como uma forma de pressionar os países, mas, na verdade, não é colocada em prática.

“Isso aconteceu em todas as interações com Colômbia, com a própria Venezuela, com o México e com o Canadá. Então, é possível também que com a China haja uma negociação, afinal essa é uma relação complicada. Uma concorrência muito pesada e ambos os países perdem muito, principalmente os Estados Unidos perdem muito com tarifas”, explicou o especialista. “É difícil entender agora se quem falar grosso com o Trump também vai ter benefícios. Trump não está mexendo com gente que pode falar grosso com ele, a não ser a própria China”, acrescentou o cientista político.