Por: Gabriela Gallo

Guerra de Bonés: novo capítulo de embate entre governo e Congresso

Lula aderiu à "guerra dos bonés" entre governo e oposição | Foto: Reprodução/Redes sociais

Com o retorno as atividades parlamentares, um novo embate surgiu entre a base e a oposição do governo federal, mas também pode ser uma oportunidade para a comunicação institucional do governo federal.

Entenda

Na eleição da Câmara dos Deputados e do Senado, no último sábado (1º), a equipe do governo federal utilizou um boné azul escrito "O Brasil é dos brasileiros". A frase bordada no chapéu é uma resposta às declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (partido Republicanos) sobre o Brasil e os demais países latinoamericanos. “Eles precisam de nós, mais do que precisamos deles. Nós não precisamos deles, eles precisam da gente”, disse o norte-americano.

Diante disso, ministros do governo e aliados passaram a usar o boné, como contraponto ao utilizado durante as campanhas presidenciais de Donald Trump – um boné vermelho escrito "Make America Great Again". Alguns políticos de direita, que apoiam Trump no Brasil, chegaram a posar com o mesmo boné. Na votação dos novos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), entre outros, apareceram com uma versão azul e amarela com a frase, idealizada pelo secretário de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, bordada. Na segunda-feira (3), sessão de abertura dos trabalhos do Congresso, outros governistas usavam o boné.

Todavia, na mesma sessão, a oposição do governo também customizou um boné em resposta ao Executivo, no caso verde e amarelo escrito "Comida barata novamente. Bolsonaro 2026", fazendo uma explícita crítica à alta dos preços dos alimentos – apesar de que, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2020 e 2022, também foi registrado um elevado valor para os alimentos.

Estava instalada a "guerra dos bonés" no Congresso Nacional. Nesta terça-feira (4), foi publicado um vídeo no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também aderia à moda colocando o boné azul na cabeça duas vezes. A ideia toda do boné partiu do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Sidônio Palmeira.

Impacto

Para algumas, a medida foi uma grande sacada do ministro da Secom, em usar a semiótica para inverter símbolos ligados ao governo. Por exemplo, a cor vermelha se tornara uma cor associada ao Partido dos Trabalhadores, enquanto o verde e amarelo se associaram à gestão de Jair Bolsonaro, visto que seus apoiadores adotaram a camisa da seleção brasileira como uma espécie de uniforme.

Em contrapartida, há quem argumente que essa guerra de bonés se trata de uma infantilidade no Congresso. Nesta terça-feira, o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), criticou a moda. Ele escreveu em suas redes sociais que “boné serve para proteger a cabeça do sol, e não para resolver os problemas do país”.

“O que a gente precisa é fazer, e ter a cabeça aberta para pensar em como ajudar o Brasil a ir para frente”, escreveu o parlamentar em suas redes sociais.

Marketing

Questionada pela reportagem, a PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/Eaesp, Lilian Carvalho, destacou que “o comentário de Hugo Motta pode indicar uma possível tensão entre o Executivo e o Legislativo, apesar da aparente cordialidade inicial” entre os presidentes em seus primeiros encontros.

Além disso, a especialista em marketing acredita que, no campo das redes sociais, o governo ainda precisa intensificar os trabalhos para ter maior alcance, usando como exemplo, o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) comentando sobre o Pix. Em 24 horas, o vídeo “acumulou 7,5 milhões de likes e mais de 60 milhões de visualizações, segundo o sofware Not Just Analytics”, enquanto o vídeo de Lula colocando o boné teve, até às 17h desta terça, pouco mais de 180 mil likes e 540 mil visualizações. “[Isso] coloca Lula, que é o presidente da nação, três ordens de magnitude abaixo da viralização do Nikolas”, ponderou a especialista de marketing ao Correio da Manhã.

“O potencial de visualizações e engajamento no Instagram é muito maior, e esse não é o resultado apresentado até agora pelo conteúdo do governo em relação ao boné ‘O Brasil é dos brasileiros’. Vale ressaltar que uma das buscas associada ao boné é ‘Make Brazil great again’, o que mostra que, espontaneamente, os usuários do Google estão buscando essa frase em bonés também. Isso pode indicar que a estratégia do governo de se apropriar de símbolos tradicionalmente associados à oposição pode estar tendo um efeito não intencional”, destacou Lilian Carvalho.