Poucos minutos depois de ser eleito o novo presidente do Senado, com os votos de 73 dos 81 senadores, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) já falava por telefone como presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação já tinha sido articulada pelo líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP). Assim que se acalmaram as comemorações pela vitória, Randolfe passou o celular para Alcolumbre, que teve a primeira conversa com Lula.
“Rapaz, que votação expressiva, hein?”, brincou Lula. “À sua disposição, presidente”, respondeu Alcolumbre. Os dois, então, combinaram ter uma primeira conversa “nas próximas horas”. Segundo informou Randolfe ao Correio da Manhã, essa reunião já deverá acontecer nesta segunda-feira (3).
Sem surpresas, o plenário do Senado Federal elegeu, neste sábado (1?), o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) como novo presidente da Casa. Com uma ampla margem de vantagem, ele venceu por 73 votos dos 81 senadores. Ficou a somente três votos dos recordes, que foram os 76 votos obtidos por Mauro Benevides (MDB-CE) em 1991 e José Sarney (MDB-AP) em 2009.
Alcolumbre assumirá a presidência da Casa no biênio 2025-2026. Como é tradição do Senado, a votação ocorreu em cédulas de papel, com resultado apurado em tempo real. O senador já assumiu a presidência da Casa anteriormente, entre 2019 e 2020.
Pacificação
A disposição em conversar logo com Lula é coerente com o discurso feito por Alcolumbre. O novo presidente do Senado afirmou que durante sua gestão buscará a pacificação, especialmente entre os poderes. “Precisamos reconstruir pontes e lembrar que os adversários são parceiros no debate democrático, típico de uma Casa como esta. Ansiamos, todos, pela pacificação. Queremos resgatar a cordialidade que perdemos. Voltar a perceber que temos um objetivo comum: o
desenvolvimento do Brasil”, disse.
Todavia, apesar do tom brando, Alcolumbre destacou que o Senado precisa adotar um posicionamento “corajoso” frente aos demais poderes e à sociedade. “O Congresso Nacional deverá ser porta-voz do sentimento dos brasileiros que nos colocaram aqui. Pensar e agir no sentido de facilitar a vida do cidadão, dando mais oportunidades, mais liberdades, mais sonhos. Por vezes, isso nos exigirá um posicionamento corajoso perante o governo, o Judiciário, a mídia ou o mercado. Nem sempre agradaremos a todos”, disse Alcolumbre.
Orçamento
Outro recado claro dado por Alcolumbre é que ele não pretende simplesmente ceder às determinações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino quanto à questão das emendas orçamentárias. O que se comenta no Congresso é que, se era Arthur Lira (PP-AL) o dono da chave do cofre do Orçamento na Câmara, no Senado o dono é Alcolumbre.
“Não haverá democracia forte sem um Congresso livre, sem um Parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo e independente. Quero ser claro: é essencial respeitar as decisões judiciais e o papel do Judiciário em nosso sistema democrático. Mas é igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Legislativo e garantir que este Parlamento possa exercer seu dever constitucional de legislar e representar o povo brasileiro”, reiterou o senador, em seu discurso antes da votação.
Favorito da Casa, ele disputou o posto com os senadores Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), que teve quatro votos, e Eduardo Girão (Novo-CE), que também recebeu quatro votos. Os senadores Marcos do Val (Podemos-ES) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) também disputavam o posto, mas, em seus respectivos discursos no plenário, ambos retiraram suas candidaturas.
Mesa Diretora
Além do presidente da Casa, os demais membros eleitos para a Mesa Diretora do Senado são: Eduardo Gomes (PL-TO) na 1ª vice-presidência, Humberto Costa (PT-PE) na 2ª vice-presidência, Daniella Ribeiro (PSD-PB) na 1ª secretaria, Confúcio Moura (MDB-RO) na 2ª secretaria, Ana Paula Lobato (PDT-MA) na 3ª secretaria e Laércio Oliveira (PP-SE) na 4ª secretaria. Já os suplentes da Mesa Diretora são: Chico Rodrigues (PSB-RR), Messias de Jesus (Republicanos-RR), Styvenson Valentim (PSDB-RN) e Soraya Thronicke.
Pacheco
Pouco antes da sessão, o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), realizou uma última coletiva de imprensa como presidente da Casa. Na ocasião, ele fez um balanço de sua gestão e destacou a importância de se proteger a democracia.
“Em momentos de negacionismo, momentos estranhos como os que estamos vivendo no mundo, é muito importante que a política e a sociedade se unam nesse enfrentamento à antidemocracia”, destacou Pacheco.
Em meio às expectativas de nomes para a reforma ministerial, o agora ex-presidente do Senado foi cogitado para assumir o Ministério de Justiça e Segurança Pública no lugar de Ricardo Lewandowski. Porém, na última quinta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou que gostaria que Rodrigo Pacheco fosse o novo governador de Minas Gerais.
Questionado pela imprensa, durante entrevista coletiva antes da sessão, Pacheco comentou que tem interesse em concorrer ao governo de Minas Gerais, mas ainda é cedo para anunciar uma possível candidatura, que dependerá de uma série de variáveis.