Por: Gabriela Gallo

Mais entrevistas fazem parte da nova estratégia de comunicação

Entrevistas de Lula no Planalto agora serão rotineiras | Foto: Ricardo Stuckert / PR

Após uma série de embates que prejudicaram sua imagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, nesta quinta-feira (30), no Palácio do Planalto. A coletiva durou uma hora e vinte minutos, em meio a falas descontraídas, piadas e respostas sérias em tom de leveza em comparação a coletivas anteriores – mais raras e formais. A medida faz parte da nova estratégia implementada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira.

“Nós não queremos mais que a imprensa fique sentada numa sala querendo saber de notícia. Eu não quero mais ver notícias como ‘ah, conversei com uma fonte próxima do presidente que disse tal coisa’. Não, vai conversar com o presidente. Vai ficar melhor, mais verdadeiro”, destacou Lula.

Além de usar o espaço para pontuar os feitos do governo nos últimos dois anos, Lula respondeu uma série de questionamentos, dentre eles, aumento dos preços dos alimentos, aumento da taxa Selic, expectativas quanto à reforma ministerial e quanto as eleições de 2026.

Aprovação

A entrevista ocorreu após o governo sofrer uma queda na sua popularidade. Na segunda-feira (27), a pesquisa da Instituto Quaest para a Genial Investimentos apontou que 49% da população desaprovava a gestão do governo Lula contra 47% de aprovação. Esta foi a primeira vez que o índice da desaprovação superou o de aprovação. E, após o anúncio do aumento dos preços dos combustíveis neste sábado (1º), há chances de a desaprovação crescer, ou permanecer como está.

Porém, apesar dos resultados negativos, o presidente disse que busca não se preocupar com resultados de pesquisas. “A pesquisa não é feita para você gostar ou não gostar, ela é feita quando você é responsável para poder avaliar e fazer as correções necessárias. É muito cedo para fazer pesquisas sobre 2026 e é muito cedo para avaliar dois anos de governo. No dia em que eu estiver preocupado com pesquisa, eu vou convocar uma coletiva para dizer para vocês: me preocupei com a pesquisa”, declarou Lula.

Comunicação

Ao final da coletiva, o presidente destacou que pretende realizar novas entrevistas neste modelo com frequência, a partir de agora, na intenção de trazer maior transparência com a imprensa. A nova abordagem, somadas às mudanças de postagens nas redes sociais, fazem parte das alterações propostas por Sidônio para uma comunicação mais próxima da população além da internet.

Recentemente, autoridades políticas vem optando por apostar em posicionamentos, declarações e conteúdos voltados exclusivamente para as redes sociais. Ao Correio da Manhã, a especialista em marketing político Andressa Kammoun destacou que, apesar da comunicação via redes sociais ser muito eficiente por oferecer “alcance massivo, personalização de mensagens e engajamento direto”, ela apresenta “limitações estruturais, sobretudo quando se trata de governos que precisam atingir públicos diversos e heterogêneos”. Ou seja, o risco de priorizar somente as redes sociais é que a mensagem não saia da bolha dos que já apoiam o governo.

“O principal problema está na segmentação algorítmica das redes, que favorece o consumo de conteúdos alinhados às preferências do usuário, criando bolhas informacionais. Dessa forma, uma comunicação que se restringe às redes sociais tende a reforçar narrativas já estabelecidas, mas encontra dificuldades para ampliar o alcance e conquistar novos públicos”, destacou à reportagem.

Na avaliação da comunicadora, para o governo ser capaz de “atingir um equilíbrio entre públicos digitais e não digitais”, são necessárias estratégias multicanais que contemplem: integração entre redes sociais e mídia tradicional; diálogo com a imprensa de forma estratégica e frequente; o uso de canais alternativos e locais, e maior previsibilidade e constância – ou seja, em vez de “apenas responder a crises, a comunicação deve adotar uma agenda proativa, garantindo que as mensagens do governo sejam difundidas de forma estruturada e contínua”.

“O contexto atual demonstra que depender exclusivamente das redes sociais ou agir de forma reativa não é suficiente para garantir que a mensagem do governo alcance toda a sociedade. O sucesso dessa estratégia dependerá da sua consistência ao longo do tempo. A comunicação governamental não pode ser episódica ou depender de momentos de crise para ganhar força”, destacou Kammoun.

Ela ainda reiterou que, para fortalecer a comunicação institucional como um todo, o governo precisa adotar os seguintes princípios: maior presença institucional; diversificação dos meios de comunicação; estratégia proativa, e não apenas reativa; segmentação de mensagens para diferentes públicos e fortalecimento da comunicação regional.