Por: Karoline Cavalcante

Kassab: hoje, Lula não venceria eleição

Kassab não define se é oposição ou se é governo | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As falas do presidente do PSD e secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab, sobre o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são uma tentativa de jogar mais pressão no governo para garantir a ampliação de seu partido com mais ministérios. É o que avalia o cientista político Marco Teixeira ao Correio da Manhã.

Ao participar nesta terça-feira da Latin America Investment Conference, em São Paulo, Kassab lançou um recado duro ao governo. No momento em que Lula perde popularidade e adia uma reforma ministerial por não confiar que a ampliação de espaços aos aliados vá garantir mais apoio, Kassab confirmou os receios do presidente. Com todas as letras, disse considerar que Lula, embora forte, hoje não venceria as eleições presidenciais. E que apoiá-lo nessa empreitada poderá mesmo não ser o caminho do PSD.

Teixeira explica que o jogo para as eleições de 2026 já começou e o PSD “quer vender mais caro o seu apoio”.

“Não dá para perder de horizonte que o PSD está em busca de ampliar a participação dele no governo com mais ministérios. Então, a crítica do Kassab também tem a ver com isso. É jogar mais pressão em cima de Lula para manter o apoio do PSD”, disse o cientista político. “Mas, ao mesmo tempo, Kassab surfa na onda das pesquisas de popularidade que vêm mostrando o declínio da popularidade do Lula”, afirmou.

Na conferência, Kassab reconheceu que Lula é um candidato forte. Porém, se as eleições fossem hoje, seria derrotado. “Em quase 23 anos, desde que Lula se elegeu, o PT nunca teve uma queda [de popularidade] no Nordeste. Se fosse hoje, ele estaria na campanha, mas não na posição de favorito, mas sim de derrotado”, declarou o político ao mencionar a última pesquisa do Instituto Quaest, divulgada na segunda-feira (27).

O levantamento mostrou que, pela primeira vez, o índice de desaprovação (49%) do terceiro mandato do presidente Lula superou o de aprovação (47%), sendo que uma parte relevante da perda de apoio aconteceu no Nordeste e entre a população de baixa renda — setores estes em que o petista costuma ter uma larga vantagem.

2026

Kassab declarou ainda que poderia haver uma reviravolta no governo, mas não enxerga um encaminhamento para uma mudança nos atuais rumos. “Não vejo uma articulação para reverter essa tendência de piora no cenário. Não vejo nenhuma marca boa, como tiveram FHC [Fernando Henrique Cardoso] e o Lula nos primeiros mandatos”, prosseguiu.

Além disso, mencionou o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos-SP), como um forte nome da oposição. Embora o PSD faça parte do governo Lula, com três ministérios, Kassab é o secretário de Governo de Tarcísio. Para presidente do PSD, porém, Tarcísio deverá tentar a reeleição para governador em 2026. Nem por isso, porém, o PSD ja fecha apoio a Lula. Kassab citou como possibilidades na disputa à Presidência o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Após as eleições municipais, Kassab já tinha falado em Ratinho Jr. Eduardo Leite entra como alternativa porque PSD e PSDB estão discutindo uma possível fusão.

Economia

O presidente do PSD afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad é “fraco” e tem dificuldades em conduzir a política econômica do país. “Ele externaliza convicções e projetos, que acabam não se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da economia fraco não é um bom indicativo”, afirmou, ao comparar com os ministros de outros governos, como Pedro Malan, Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Paulo Guedes.

Em resposta, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, defendeu Haddad e chamou Kassab de “articulador político” de Tarcísio. “Estranho seria se o articulador político do governador Tarcísio elogiasse o exitoso trabalho de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda. Recordes de geração de emprego, diminuição da pobreza, reforma tributária… São tantas vitórias que devem mesmo irritar a oposição”, publicou o ministro em seu X (Antigo Twitter). Kassab preside um partido que faz parte da base do governo.