Por: Karoline Cavalcante

Celac cancela reunião para tratar de deportação

Vieira: EUA têm de garantir condições dignas | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Karoline Cavalcante

Por pressão, a presidente de Honduras, Xiomara Castro de Zelaya (Liberdade e Refundação), que atualmente lidera a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), anunciou nesta quarta-feira (29) o cancelamento da reunião extraordinária prevista para quinta-feira (30). O encontro teria como pauta a discussão das medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano) sobre a deportação de imigrantes ilegais.

De acordo com Zelaya, a decisão foi tomada devido à "falta de consenso" entre os países membros da Celac sobre o tema. "É importante destacar e reiterar que a Celac, como mecanismo representativo de concertação política, cooperação e integração dos Estados latino-americanos e caribenhos, só toma decisões por consenso, e Honduras, no exercício da Presidência Pro Tempore, tem incentivado o cumprimento de objetivos comuns para alcançar a integração e a unidade regionais", escreveu a presidente de Honduras em suas redes sociais.

O cancelamento da agenda foi principalmente motivado pela reclamação da Argentina e outros dois países. O governo do presidente argentino Javier Milei (Libertário Liberal) alegou que as presidências pró-tempores não têm condições de pedir reuniões extraordinárias.

Brasil

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, havia anunciado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participaria virtualmente do encontro. "O Brasil é um dos criadores da Celac, não poderíamos deixar de estar presentes", disse o ministro à imprensa na última terça-feira (28) — após reunião com representantes do governo federal no Palácio do Planalto.

Na ocasião, Lula convocou ministros para tratar sobre o transporte dos 88 brasileiros deportados dos EUA. No fim de semana, eles foram conduzidos pelo governo dos EUA com os pés e mãos algemados e em uma aeronave que apresentava problemas técnicos e com o ar-condicionado quebrado. Passageiros também relataram dificuldades para se alimentar, beber água e ir ao banheiro. De acordo com Mauro Vieira, a reunião buscou transmitir ao presidente os acontecimentos e a forma de discutir com as autoridades americanas que a deportação deve atender os "requisitos mínimos de dignidade e respeito aos direitos humanos".

O governo discutiu também a possibilidade de criar um grupo de trabalho entre o Brasil e os Estados Unidos para discutir os critérios mínimos para as deportações dos civis.

Celac

A reunião da Celac havia sido solicitada pelo presidente colombiano, Gustavo Petro (Colômbia Humana), após tensões com Trump, causadas pela recusa de Petro em aceitar colombianos deportados em aviões militares norte-americanos. Nas redes sociais, Petro fez um apelo por dignidade para a população de seu país: "Se esse país os devolve, deve ser com dignidade e respeito, sem tratá-los como criminosos."

Em resposta, Trump anunciou medidas punitivas, incluindo uma tarifa de 25% a 50% sobre produtos colombianos e a proibição de viagens e revogação de vistos para autoridades colombianas nos EUA. O governo colombiano reagiu com uma tarifa de 25% sobre produtos dos EUA e anunciou a expansão das exportações para outros mercados, excluindo o país norte-americano.

O impasse, porém, foi resolvido rapidamente, com os dois países suspendendo as novas tarifas e medidas após o governo colombiano concordar em receber os deportados sob as condições dos Estados Unidos.