Por Gabriel Rattes
Foi realizada nesta quinta-feira (07/08), na 4ª Vara Cível de Petrópolis, uma audiência que debateu a situação do parque de diversões Crazy Park, interditado desde o acidente que causou a morte do jovem João Victor Souza Trindade da Silva, de 19 anos, em maio deste ano. Durante a audiência, o advogado do parque, Giuliano Vettori, confirmou que esse foi o segundo acidente com o mesmo brinquedo, o "Expresso do Amor". A revelação reforçou as preocupações sobre a segurança do equipamento, que segue interditado junto com todas as atrações do parque.
Outro ponto central da audiência foi a informação de que a Polícia Civil já concluiu uma perícia técnica no brinquedo. Segundo o delegado Vitor Maranhão, responsável pelo inquérito, o equipamento apresentava falhas graves de segurança, como ausência de sistema de trava dupla e facilidade de acesso dos usuários à alavanca da trava.
Perícia confirma falhas
Durante a audiência, o delegado destacou que o laudo pericial confirmou que não havia um mecanismo de segurança redundante no "Expresso do Amor". Também foi constatado que, com três pessoas no mesmo carrinho, os passageiros nas laterais acabavam naturalmente posicionando os braços para fora, o que deixava a alavanca de segurança ao alcance das mãos — algo que compromete a segurança do brinquedo.
A lotação do brinquedo, segundo a perícia, deveria ser de duas pessoas por carrinho, não três, como ocorria na prática. Além disso, a Polícia Civil investigou que o mesmo brinquedo já havia causado a morte de uma pessoa em 2023, no bairro de Bangu, no Rio, quando era operado por outra empresa do mesmo proprietário. Um terceiro caso está em apuração em Cabo Frio, envolvendo outro equipamento da empresa, embora não seja o mesmo brinquedo.
A defesa do Crazy Park, no entanto, afirmou que o brinquedo segue um padrão italiano, com normas técnicas internacionais. Disse que a capacidade oficial é de três pessoas por carrinho, embora o parque costume divulgar dois lugares por questões de organização de filas e marketing. A defesa reconheceu a possibilidade de uma falha pontual no acesso ao sistema de trava, mas alegou que isso não representa, necessariamente, uma violação técnica ou legal. A empresa se comprometeu a acompanhar o caso e, se for necessário, realizar adaptações no equipamento.
"Tempo excessivo para resposta", diz juiz
Ao abrir a audiência, o juiz Jorge Luiz Martins reconheceu a demora na tramitação do caso. "O tempo passou e não fomos diligentes. Quando falamos de injustiça moral, temos que reconhecer que as coisas não andaram bem", afirmou o magistrado. Ele reforçou a importância de acelerar os procedimentos, inclusive a realização de perícia nos equipamentos.
O advogado do Crazy Park disse que duas das três vítimas do acidente já foram indenizadas e que a terceira — a família de João Victor — está em processo de formalização do acordo. Ele também afirmou que o parque está disposto a custear a perícia para agilizar a liberação parcial das atrações que não estejam envolvidas diretamente no acidente.
Bombeiros explicam ausência de vistoria
O Corpo de Bombeiros, representado pelo Tenente-Coronel Márcio Luiz Huguenin, esclareceu que não é obrigatória a realização de vistoria prévia em eventos temporários, como os parques itinerantes, segundo a norma técnica 5/04 de 2019. Ele afirmou ainda que a autorização do evento foi emitida pela Diretoria Geral de Diversões Públicas, no quartel central da corporação, no Rio de Janeiro, e não pelo 15° Grupamento de Bombeiros de Petrópolis, que não tinha conhecimento da realização do parque à época.
Ainda assim, uma vistoria feita após o acidente, em 3 de maio, encontrou diversas irregularidades, como pontos de oxidação em brinquedos, fiação exposta, número inadequado de extintores e ausência de gradis de proteção nos geradores. Um relatório detalhado com fotos foi enviado ao Ministério Público.
Prefeitura reforça necessidade de perícia
O secretário municipal de Serviços, Segurança e Ordem Pública, Marcelo Ramos Chitão, informou que a Guarda Civil Municipal tem mantido vigilância no parque, com quatro agentes diários, dois deles exclusivos para preservar o local. No entanto, ele ressaltou a dificuldade de manter a operação por tempo indeterminado e defendeu a realização da perícia.
O que diz o MPRJ?
A promotora Vanessa Katz reforçou que os riscos aos consumidores estão bem documentados e defendeu a manutenção da interdição do parque. Para ela, apenas após inventário detalhado e análise individual dos brinquedos é que será possível considerar a liberação de algum equipamento.
Katz também ressaltou que os equipamentos estão montados a céu aberto e sujeitos a deterioração, o que torna urgente a realização da perícia — especialmente porque o parque se comprometeu a arcar com os custos. Por fim, a promotora fez uma cobrança direta ao poder público:
"É importante registrar que o município de Petrópolis deve produzir regulamentação para a instalação e funcionamento de parques de diversões em seu território, sobretudo diante das informações prestadas pelo Corpo de Bombeiros", disse. Ela pediu, inclusive, que o Ministério Público intime pessoalmente o prefeito para apresentar uma proposta concreta nesse sentido, com base no "espírito estruturante" das ações civis públicas.
O que motivou a ação do Ministério Público?
A ação foi motivada por um acidente ocorrido na madrugada de 3 de maio de 2025, durante o funcionamento do Crazy Park no Parque Municipal de Itaipava. O brinquedo "Expresso do Amor" teve uma falha na trava de segurança, e os jovens João Victor e Raissa Dutra foram lançados do equipamento, colidindo com partes metálicas. João Victor morreu no local.
O Ministério Público pediu a produção antecipada de provas para evitar que as condições do parque fossem alteradas antes da perícia. A preocupação é que os brinquedos, montados a céu aberto, estão expostos ao tempo e a possíveis interferências humanas, o que pode comprometer a integridade da prova.
O que acontece agora?
A expectativa é de que a Justiça nomeie um perito nos próximos dias para realizar uma análise técnica completa dos brinquedos e equipamentos do Crazy Park. Até lá, o parque permanece totalmente interditado.