Brasília aprendeu cedo que nem todo prédio atravessa o tempo da mesma forma. Alguns se renovam, outros ficam suspensos entre o que foram e o que poderiam ser. O Torre Palace seguiu esse segundo caminho. Um dos primeiros hotéis de luxo da capital, inaugurado quando a cidade ainda se apresentava ao país, tornou-se, com os anos, um edifício marcado pela espera. Agora, após mais de uma década fechado, terá um desfecho definitivo: será implodido.
A decisão encerra um ciclo longo e complexo. O prédio funcionou por cerca de 40 anos e foi referência de hospedagem no Setor Hoteleiro Norte. A partir dos anos 2000, após a morte de seu fundador, o hotel passou a enfrentar disputas entre herdeiros, ações judiciais e dificuldades administrativas. Em 2013, as portas se fecharam. Desde então, o Torre Palace permaneceu em um impasse que impediu venda, reforma ou demolição.
Enquanto isso, o edifício perdeu a função e presença urbana. Sem manutenção, sofreu vandalismo, foi alvo de invasões e exigiu sucessivas intervenções do poder público. Ainda assim, manteve algo paradoxal: mesmo degradado, continuava localizado em um dos pontos mais estratégicos da cidade, próximo a ícones da capital.
A implosão, prevista para o próximo dia 21, não apaga a importância histórica do Torre Palace, mas reconhece que o prédio já não cumpria nenhum papel compatível com a Brasília atual. É um encerramento técnico, planejado e necessário para abrir espaço a um novo empreendimento, ainda indefinido, mas alinhado à dinâmica contemporânea da cidade.
Nem toda demolição representa perda. Em alguns casos, é a forma mais objetiva de reorganizar o espaço urbano e permitir novos usos. O Torre Palace deixa de existir como edifício, mas permanece como referência de um período em que Brasília apostava alto no futuro.
A queda do prédio também expõe um dilema recorrente da capital: como lidar com estruturas que envelhecem antes mesmo de amadurecer plenamente. Brasília, projetada para o amanhã, ainda aprende a administrar o passado que construiu em ritmo acelerado. O Torre Palace simboliza esse desafio, ao reunir ambição, abandono e, por fim, a necessidade de ruptura.
Quando o concreto tocar o chão, não será apenas o fim de um edifício, mas o encerramento de uma narrativa urbana. A cidade seguirá em frente, como sempre fez, incorporando novas formas, novos usos e novos símbolos. Entre escombros e projetos, Brasília reafirma sua vocação de cidade em constante transformação.
O concreto vai ao chão. A história, não.