Por:

Brasília, uma caixa de brincar

Brasília costuma ser vista de longe, com seus traços firmes e grandes silêncios. Mas, às vezes, para entender uma cidade, é preciso chegar perto — tocar, mover, experimentar. A instalação DE VER CIDADE - Brasília numa caixa de brincar, na Biblioteca Nacional, abre essa porta. Em vez de apenas observar, o público pode montar, desmontar, entrar e sentir Brasília com o corpo, como quem descobre um segredo antigo em um gesto simples.

Há quem enxergue frieza no concreto. Mas quando o concreto vira brinquedo e abrigo, ele se aquece. O trabalho do coletivo Entrevazios lembra que cidade não é só projeto ou desenho famoso: é relação, memória, passo que encontra outro passo na calçada. Ao brincar com Brasília, cada pessoa cria sua própria versão dela, e talvez encontre ali uma capital mais próxima, mais viva, mais humana.

A acessibilidade aqui não é detalhe: é convite. Todos podem participar, tocar, ouvir, explorar sem barreiras. Um lugar onde a experiência não depende apenas dos olhos, mas de todos os sentidos, e onde ninguém fica do lado de fora esperando permissão para sentir pertencimento. Isso também é construir cidade: abrir espaço para todas as vozes e corpos.

Brincar pode parecer simples, mas é um gesto transformador. Quando a cidade cabe nas mãos, ela parece mais possível. Quando cabe no corpo, ela se torna nossa. E assim Brasília, tantas vezes vista como distante, se revela próxima, não como maquete perfeita, mas como encontro vivo entre gente, espaço e imaginação. Uma cidade que, ao ser recriada, talvez aprenda a abraçar melhor quem nela caminha.