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O rio que renasce em Taguatinga

Há rios que correm por baixo da terra, invisíveis aos olhos, mas pulsando sob a memória. Em Taguatinga, esse leito oculto ressurge em festa. No domingo, a "Festa da Onça - O Re-nascimento do Rio" transforma o Batalhão das Artes em território simbólico de reencontro. Ali, tradição e invenção se entrelaçam como margens que voltam a se tocar.

A celebração é fruto da Casa Moringa, coletivo que há mais de uma década semeia cultura viva no Distrito Federal, regando o diálogo entre ancestralidade e contemporaneidade. No desaguar do projeto Memórias do Rio - Encontros do Descoberto, a comunidade é convidada a revisitar suas águas internas: as histórias, saberes e afetos que moldaram Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.

Em cena, dezoito mulheres do Cortejo Tawá-Tingá recontam o nascimento de um povo. Tecem fios cortados pela urbanização e convidam à escuta do que o solo ainda murmura. Sob o olhar da Onça Yayá, guardiã das florestas, o espetáculo é também um gesto político — não de confronto, mas de cura. Reflorestar o imaginário talvez seja o primeiro passo para limpar as águas reais.

A festa propõe mais que entretenimento: um exercício coletivo de pertencimento. Ao celebrar o rio, celebra-se a cidade e sua memória. E, nesse movimento de retorno, Taguatinga reencontra o que nunca deixou de ser — nascente de cultura, corrente de vida, território que insiste em renascer.