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Boa noite, Cinderela

Quando somos crianças, uma das principais orientações de nossos pais é não aceitar doces, saídas ou qualquer coisa de estranhos. Quando se cresce um pouco mais e atinge-se a maioridade, a recomendação muda o foco: nunca aceite bebidas de estranhos e fique sempre de olho no seu copo de bebida alcoólica. Podem estar adulteradas e você sofrer o golpe “Boa noite, Cinderela”. E se você estiver sozinho, é receita para o desastre: você fica completamente vulnerável, sem controle do próprio corpo e das próprias ações – suscetível a qualquer tipo de violência física, sexual, patrimônial – e “acorda” após o efeitos do entorpecente passar sem se recordar de nada do que aconteceu na noite anterior.

O que antes era uma recomendação de andar acompanhado, optar por consumir bebidas alcoólicas de garrafas e latas lacradas e sempre olhar a validade do que está consumindo ficou agora muito mais grave. O risco e o alerta nacional de casos de contaminação por metanol acendem um alerta e um novo pânico para os consumidores de bebidas alcoólicas do país.

Antes, o medo – especialmente de mulheres – era ter a bebida adulterada por terceiros e ser vítima de estupro ou outra violência. Agora, não se trata mais de não aceitar bebidas de estranhos, mas verificar a veracidade e confiabilidade de um estabelecimento que vende os produtos a fim de ter certeza que este adquire as bebidas com empresas regularizadas. As vítimas, até o momento, são pessoas que estavam acompanhadas de amigos e pediram bebidas em bares, ou compraram em distribuidoras e adegas – como o caso do cantor Hungria, que foi internado por infecção de metanol.

Segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 59 casos de intoxicação por metanol, uma morte causada por intoxição e outras sete mortes sob investigação das circunstâncias. Atualmente, há duas linhas das possíveis contaminações: no envase de algumas garrafas ou a adulteração deliberada de bebidas, como forma de baratear seus custos.

O álcool não é algo necessário para viver. Pelo contrário, é recomendado por nutricionistas e demais profissionais de saúde que seja evitado. Mas é inegável que ele faz parte da cultura do brasileiro. Seja a cervejinha em um bar com amigos em uma sexta à noite após o expediente, uma caipirinha acompanhando uma feijoada ou um vinho com o cônjuge em uma ocasião especial. Não se trata de aplicar um falso moralismo de reforçar o quanto bebidas alcoólicas fazem mal à saúde, mas conscientizar a população a buscar com critérios rígidos de onde sua bebida foi comprada para se protegerem.