Por: Rosina Bezerra de Mello

As irmãs Brontë

As irmãs inglesas Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849), entre outras atividades laborais, são lembradas por sua ousadia em tornarem-se escritoras e poetisas na era vitoriana, período no qual a mulher era considerada propriedade do marido ou do pai e só possuía o direito de obedecer. Seus escritos tornaram-se clássicos da literatura universal, traduzidos para inúmeros idiomas e representados em diferentes linguagens como cinema, teatro e televisão.

As irmãs, sempre com nomes masculinos, primeiro publicaram poesias em conjunto, depois tentaram romances. Charlotte foi a primeira a publicar um romance, que fracassou, contudo o segundo, Jane Eyre, sob o pseudônimo de Currer Bell, atingiu grande e imediato sucesso.

Emily escrevia sob o pseudônimo masculino Ellis Bell e é autora do romance Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes) de 1846. O romance não foi aceito pela crítica imediatamente, porém, por sua narrativa marcante e realista, após a morte da escritora tornou-se um clássico. A estrutura do romance e o clima tenso da história foram incompreendidos pelos críticos. A violência e a paixão sensual vívida e o poder da sua linguagem e descrição impressionaram, deixaram perplexos e chocaram os críticos do livro e levaram o público vitoriano a acreditar verdadeiramente que tinha sido escrito por um homem.

Anne consagrou-se pela publicação da sua segunda obra The Tenant of Wildfell Hall, sob pseudônimo masculino de Acton Bell. Esse foi considerado um dos primeiros romances feministas, publicado em 1848. O título em português para "The Tenant of Wildfell Hall" mais comum é "A Inquilina de Wildfell Hall", embora também seja encontrado como "A Moradora de Wildfell Hall", "A Senhora de Wildfell Hall", ou até, em Portugal, como "O Jogo da Vida" ou "A Bela Desconhecida". "A Inquilina" é considerado por muitos a tradução mais literal e popular.

Considerado um dos romances mais chocantes da Era Vitoriana, pois retrata o alcoolismo e a depravação moral, ferindo ou expondo a falsa moralidade da sociedade inglesa do século XIX. Além disso, caracteriza a personagem principal, Helen Graham desafiando as estruturas sociais e legais existentes na época. Até 1870, uma mulher casada não tinha uma existência própria legalmente reconhecida: não podia ter propriedades em seu nome, pedir o divórcio ou conseguir a custódia dos filhos. Se uma mulher tentasse viver sozinha, o seu marido tinha o direito de a reclamar como sua propriedade e, se tentasse levar os seus filhos consigo, era acusada de rapto. Se uma mulher vivesse sozinha e com os seus próprios rendimentos, podia ser acusada de roubar o seu marido uma vez que qualquer rendimento era legalmente dele.

As irmãs Brontë não tiveram trajetórias fáceis, pois a família viviaem local insalubre e pobre, perderam familiares de modo precoce e nem foram compreendidas pela crítica da época, no entanto, seus romances são os mais conhecidos da literatura inglesa.

Rosina Bezerra de Mello é doutora em estudos literários e professora