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Reabilitação cardíaca: uma abordagem integrada

Os programas modernos de reabilitação cardíaca configuram-se como intervenções multidisciplinares, planejadas para devolver ao paciente a melhor saúde cardiovascular possível. Envolve, sim, exercícios físicos aeróbicos e de resistência, adaptados à condição individual e com monitoramento da equipe de saúde. Esses treinos, quando bem conduzidos, promovem melhora da capacidade funcional, maior tolerância ao esforço, redução de sintomas como cansaço e dispneia, e ajudam a controlar fatores de risco como hipertensão, diabetes, obesidade e dislipidemias.

Mas a reabilitação não para por aí. Para ser completa, ela deve incluir educação em saúde, com orientações nutricionais, controle de peso, cessação de tabagismo, estratégias de controle do estresse e, fundamentalmente, apoio psicológico e social. A dimensão mental é frequentemente subestimada, mas pacientes após infarto, cirurgia ou internação muitas vezes enfrentam ansiedade, depressão, medo de recaída ou reações existenciais. Programas especializados demonstram que intervenções psicossociais reduzem sintomas depressivos, melhoram o bem-estar e favorecem a adesão a hábitos saudáveis.

Esse tripé: físico, psicológico e social, atento na orientação do paciente para uma reconstrução segura da rotina, adaptada ao estilo de vida, promovendo sua reinserção ativa na comunidade e no convívio familiar é uma verdadeira reabilitação cardíaca. Exige um plano individualizado, estruturado e sustentável, que leve em conta o ser humano em sua totalidade.

Muitos pacientes — e até profissionais de saúde — ainda veem a reabilitação cardíaca como "mais do mesmo": "uma academia para cardíaco". Essa visão simplista desvaloriza a importância do cuidado integrado e multidisciplinar. A falta de conhecimento sobre os benefícios reais — funcional, emocional e social — impede que pacientes busquem o programa ou deem continuidade.

Para superar isso, é fundamental educar pacientes e familiares desde o momento da alta hospitalar: explicar por que o suporte psicológico e social importa tanto quanto os exercícios; mostrar os ganhos na qualidade de vida e na longevidade; envolver a família no processo e oferecer material educativo acessível.

Como médico cardiologista, acredito que a reabilitação cardíaca devia ser vista como parte integrante da assistência pós-evento cardiovascular, não como um extra. É uma questão de saúde pública: investir em reabilitação significa reduzir reinternações, diminuir mortalidade, melhorar qualidade de vida e reinserir pessoas na comunidade e no mercado de trabalho.

Para que isso se torne realidade, é necessário mobilizar gestores de saúde, instituições públicas e privadas, e a sociedade como um todo. Devemos ampliar o acesso, integrar equipes multiprofissionais, descentralizar os serviços, garantir financiamento adequado e promover campanhas de conscientização. Se cada paciente tiver, além de uma academia, apoio médico, psicológico, social e um plano de vida mais saudável, estaremos oferecendo não apenas a sobrevivência, mas a possibilidade concreta de viver com bem-estar, autonomia e dignidade.

Dr. Aloisio Barbosa Filho é cardiologista e secretário de saúde de Petrópolis