Por: Ricardo Bruno*

Quando o crime veste terno: a falha institucional que levou TH Jóias ao Parlamento

A presença de Thiego Raimundo dos Santos, o famigerado TH Jóias, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro não foi apenas um equívoco político — foi uma imperdoável falha institucional. Um representante do crime organizado ocupando uma cadeira no parlamento fluminense não é erro menor; é a prova viva de que o sistema democrático pode, sim, ser capturado por aquilo que deveria combater. Sua posse foi a consagração do absurdo. Um corpo estranho, uma afronta ética, um insulto à sociedade.

Mas é aqui que a análise precisa romper a superfície. Não basta apontar o dedo para a classe política, como sempre se faz. Houve algo maior, mais grave, mais estrutural: falharam as instituições. E falharam com estrondo. Como a Justiça Eleitoral referendou a candidatura de alguém já preso em 2017 por envolvimento com facções criminosas? Como o Ministério Público assistiu, inerte, ao ingresso de um personagem que o Estado conhecia — e tolerou?

TH Jóias não chegou ao topo pela porta da frente. Era apenas suplente, esquecido com pouco mais de 15 mil votos — até que o destino abriu um flanco: Rafael Picciani para o secretariado, Otoni de Paula Pai morto. E, subitamente, o parlamento fluminense se viu prestes a carregar o carimbo histórico de ter um representante do tráfico sentado em uma das suas cadeiras. Onde estavam, então, os filtros que deveriam barrar o inaceitável?

É cômodo transformar "os políticos" nos vilões absolutos da degradação moral da República. O discurso cola, rende manchetes, agrada plateias. Mas omite a verdade fundamental: Judiciário e Ministério Público falharam de forma retumbante no controle do processo eleitoral. Não foi só a política que errou — se é que errou. O erro foi anterior, institucional, estrutural.

Este episódio exige mais que lamento — exige memória. Exige responsabilidade. O Legislativo conviveu com a aberração porque foi empurrado a ela. A rotina, por mais abominável que pareça, tende à normalização do grotesco. E quando o crime senta, conversa e negocia projetos sob o manto da legalidade, já não é apenas crise — é degradação civilizatória.

Ou o país encara essa falha de frente, ou continuará fingindo surpresa quando a barbárie vestir terno e tomar assento no plenário.

*Jornalista. Editor-executivo do

Agenda do Poder