Apesar de ser uma experiência biológica comum a quase metade da população, a menstruação ainda é tratada, majoritariamente, como motivo de piada ou como um detalhe incômodo do cotidiano. Um levantamento inédito da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados, que analisou mais de 173 mil publicações nas redes sociais entre janeiro de 2024 e outubro de 2025, revela um fenômeno inquietante: enquanto memes, ironias e relatos sobre cólicas e TPM dominam o volume de postagens, é justamente o debate social e político sobre o tema que gera maior engajamento. Ainda assim, permanece minoritário.
A pesquisa mostra que apenas 10,8% das postagens categorizadas tratam da menstruação sob o viés social, incluindo discussões sobre pobreza e dignidade menstrual, impactos na educação e no trabalho, licença menstrual, programas públicos e situações de crise humanitária. São apenas cinco dos 22 subtemas classificados, mas, segundo observa Ana Klarissa Leite e Aguiar, diretora de Inteligência de Dados da Nexus, esses tópicos mobilizam uma média de interações 1,8 vez maior do que todas as outras conversas sobre o ciclo. Ou seja: quando o debate se aprofunda, a sociedade responde. Há interesse, há repercussão, há sede por diálogo qualificado.
Por que, então, seguimos conversando tão pouco sobre o que mais importa?
Falar de dignidade menstrual é falar de desigualdade. Meninas que faltam à escola porque não têm absorventes; mulheres que improvisam com miolos de pão, panos reutilizados e até folhas de jornal; trabalhadoras que perdem dias de serviço por falta de condições básicas de higiene.