A auditoria da CGU, que aponta até R$ 7,3 bilhões em medicamentos, vacinas e outros insumos perdidos de 2021 a 2023, relembra que Bolsonaro ainda paga barato por ter conduzido o país à sua pior crise sanitária e deveria ser suficiente para reanimar as discussões sobre responsabilidades da gestão passada.
As vacinas compradas durante a pandemia são a larga maioria dos insumos perdidos. Essa conta ainda inclui os testes "padrão-ouro" da Covid-19, que o governo anterior tentou mandar ao Haiti às vésperas do fim da validade, além de insulinas e milhares de outros itens.
O relatório aponta ao menos R$ 2,3 bilhões perdidos no almoxarifado do Ministério da Saúde. Já o pior cenário soma os repasses de insumos com validade curta feitos aos estados. O estoque descartado é expressivo equivale ao dobro do orçamento do Farmácia Popular do último ano
É injusto forçar uma equivalência entre as perdas da gestão Lula e do governo passado. O ex-presidente minou a confiança nas vacinas enquanto apostava na cloroquina feita pelo Exército. Também alternou o controle da Diretoria de Logística da Saúde entre indicados do centrão e militares.
Mas os produtos desperdiçados mandam recados ao governo Lula, que já deu amostras do custo de uma compra atrapalhada. No ano passado, por exemplo, o ministério perdeu praticamente um lote inteiro de 10 milhões de doses de Coronavac compradas tardiamente, quando o produto estava em desuso, desperdiçando ao menos R$ 260 milhões.
As responsabilidades da gestão Bolsonaro sobre a pandemia devem ser destrinchadas, mas a equipe da Saúde não pode mais usar o governo passado como escudo de novas falhas.
O trabalho da CGU deve servir de alerta e as propostas da auditoria, como definir percentuais aceitáveis de perdas e substituir o defasado sistema de gestão dos estoques, precisam ser acolhidas para demonstrar que a mudança de postura não é apenas discurso.
*Repórter da Sucursal da Folha em Brasília. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Passou pelo jornal Estado de S. Paulo e pelos sites JOTA e Poder360.