Nos anos 1960, uma fabricante de brinquedos se juntou a uma empresa de cosméticos em uma campanha publicitária que popularizou o 12 de outubro como o Dia das Crianças no Brasil. Coincidentemente, a data também marca a celebração da padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida.
Enquanto, aqui, o Dia das Crianças é sinônimo de presentes, parques cheios e promoções coloridas, no vizinho Paraguai a data tem um clima de lembranças e reflexões. A diferença não está só na data — lá, a comemoração ocorre em 16 de agosto —, mas também nas motivações.
Para os paraguaios, não se trata de uma comemoração inventada por uma jogada publicitária que, em algum momento, convenceu o país de que a infância se mede por brinquedos. Trata-se de um dia utilizado para lembrar das centenas de crianças que foram à guerra e não voltaram.
A história é antiga, mas o peso dela não envelhece. Em 1869, durante a Guerra do Paraguai, meninos e adolescentes foram convocados para lutar na Batalha de Acosta Ñu. Tinham entre 9 e 15 anos — alguns, menos. Eram filhos de um país em ruínas, empurrados para defender o que restava de sua nação.
Naquele momento, Solano López acumulava derrotas enquanto era perseguido pelos aliados — formados por Brasil, Argentina e Uruguai. De um lado, o exército aliado de 20 mil homens, em sua maioria brasileiros; do outro, pouco mais de 3 mil jovens, mal armados e enfrentando o impossível. É consenso entre os historiadores que a função desses adolescentes era servir de escudo humano ao ditador paraguaio. Quando o combate terminou, o campo virou um cemitério infantil.
Para o Paraguai, o Dia das Crianças não é uma festa, mas uma memória. As escolas contam a história, os museus expõem retratos e o país se recorda de um dos dias mais tristes de sua existência. Entre um país que aprendeu a vender a infância e outro que aprendeu a chorá-la, há um abismo de significados.