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Em Brasília, o branco é a cor mais quente

Ele certamente detestaria ser classificado assim. Mas a verdade é que Ariano Suassuna, além de ser um dos maiores mestres da literatura brasileira, autor de clássicos como o Auto da Compadecida e o Romance da Pedra do Reino, era um craque do stand up comedy. Ariano faleceu em 2014, mas trechos de suas palestras seguem virando memes nas redes sociais. E, de fato, são engraçadíssimos.

Nessas palestras, Ariano costuma encarnar um personagem ao mesmo tempo ranzinza e engraçado, a partir do qual conta as suas ótimas histórias.

É um pouco nessa qualidade que certa vez o grande escritor pernambucano resolveu criticar a arquitetura de Brasília. Ele diz ter sido aconselhado por um amigo jornalista brasiliense a não falar mal da arquitetura da cidade, porque os moradores da capital brasileira são bairristas e muito orgulhosos da cidade. Ele não ouviu o conselho. Falou mal mesmo assim.

Para Ariano Suassuna, a obra arquitetônica de Brasília seria feia. E nada brasileira. Segundo ele, o Brasil é um país colorido. E Brasília é toda branca. Parece, diz ele, um mausoléu.

Bem, é verdade que os brasilienses são muito orgulhosos da sua cidade. Mas isso não é para menos. Apesar da opinião de Ariano Suassuna, Brasília não é à toa Patrimônio da Humanidade e considerada belíssima.

Talvez Ariano não tenha conseguido perceber onde está a beleza e a brasilidade de Brasília e da obra de Niemeyer. A grande capacidade de Niemeyer está em transformar o concreto em curva. Obter com ele desenhos graciosos. Que lembram o corpo da mulher brasileira.

São graciosos. Sensuais. Delicados. Talvez como no poema de Vinicius: "Silencioso e branco como a bruma".

Em Brasília, o branco é a cor mais quente.